Valor Econômico, n. 4958, 12/03/2020. Brasil, p. A6

Governo baixa projeção de alta do PIB de 2,4% para 2,1%

Mariana Ribeiro
Edna Simão 


Diante do avanço do novo coronavírus e da fraca recuperação da economia, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia reduziu a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 de 2,4% em janeiro para 2,1%. Apesar de divulgada ontem, a nova grade de parâmetros não reflete mudanças recentes no cenário, como a queda no preço do petróleo nesta semana.

De acordo com a SPE, o cenário externo apresentou contínua desaceleração ao longo de 2019, reforçada fortemente nos últimos meses pelo coronavírus. A epidemia poderá representar efeitos negativos na atividade global, diz o documento, citando choques na produtividade, na demanda resultante na queda de PIB mundial, no preço das commodities e condições financeiras.

“Os impactos esperados sobre a economia brasileira situam-se dentro de um intervalo de -0,1 p.p. a -0,5 p.p, no crescimento de 2020, com valor próximo a -0,3 p.p. como sendo o cenário mais provável”, diz o documento.

Mesmo com o recuo na projeção de crescimento, a estimativa do governo para este ano segue otimista em relação à do mercado.

Analistas consultados pelo Banco Central (BC) estimavam uma alta de 1,99% no último Boletim Focus.

A grade de parâmetros dará base ao relatório de avaliação de receitas e despesas, que será divulgado até o dia 22 e que deve trazer um contingenciamento de recursos. A nova estimativa considerará dados defasados com relação, por exemplo, ao impacto do preço do petróleo na arrecadação. Isso porque os dados apresentados ontem consideraram informações da semana passada, assim o valor médio estimado para o barril de petróleo Brent no ano foi de US$ 52,70, não captando a queda acentuada desta semana.

Questionado sobre a defasagem, o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, disse que está sendo obedecida uma data de corte. “O processo orçamentário não nos dá liberdade de revisar a grade a todo momento”, disse, completando que vários parâmetros utilizados na grade não são calculados pela SPE, mas baseados em estimativas de mercado. Para a taxa média de câmbio, será utilizado o valor de R$ 4,22.

Evitando se comprometer com outras medidas de estímulo à economia, o secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, manteve o posicionamento de que o melhor caminho para lidar com crises como a do coronavírus é o endereçamento das reformas.

Mesmo com o cenário de contingenciamento para garantir o cumprimento da meta de déficit primário de R$ 124 bilhões neste ano, recursos adicionais ao Ministério da Saúde poderão ser liberados “à medida que o sistema requeira”, mas sempre atendendo “ao equilíbrio das contas públicas”, disse. Ele não se comprometeu com poupar a Saúde de eventual corte de orçamento, mas disse que, em função da impositividade na área, o ministério “em geral já tem menor contingenciamento”.

O subsecretário de Política Fiscal do Ministério da Economia, Marco Cavalcanti, disse acreditar que o impacto do coronavírus será temporário. Essa visão se reflete nas projeções para o crescimento econômico nos próximos anos, que foram mantidas em 2,5% para o período de 2021 a 2024. Para ele, a deterioração no cenário externo até agora foi significativa, mas está longe da observada durante a crise de 2008.

Para o primeiro trimestre, a projeção do governo para o PIB é de 1,84% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior e de 0,2% em relação ao trimestre anterior (com ajuste sazonal).

As estimativas para a inflação também foram atualizadas. Para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 2020, ficou em 3,12%, ante 3,62% em janeiro. A expectativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) foi para 3,28%, contra 3,73%, e para o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) foi para 3,66%, contra 4,32%.