Valor Econômico, n. 4958, 12/03/2020. Brasil, p. A6

Baque no PIB pode ser mais que o dobro do estimado

Fabio Graner


O impacto da crise do coronavírus sobre a economia pode ser mais do que o dobro do oficialmente previsto pelo governo em sua atualização divulgada ontem. Mesmo assim, ainda mostra-se mais otimista do que boa parte do mercado, que já tem projeções de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) inferiores a 1,5%.

A Secretaria de Política Econômica fez 81 simulações e considerou como cenário mais provável redução de 0,3 ponto percentual no crescimento deste ano. O cenário pessimista oficializado foi de perda de 0,5 ponto percentual. O pior quadro entre os exercícios realizados, contudo, chega a uma perda de 0,66 ponto percentual, o que colocaria a taxa de expansão na casa de 1,8% - em comparação com os 2,4% originais.

O subsecretário de Política Macroeconômica, Vladimir Kuhl Teles, explicou que esse número maior seria de um cenário “catastrófico”, para ele pouco provável de ocorrer. Teles explicou que essa estimativa considera um choque de 15% nos termos de troca (preços de commodities principalmente), recuperação apenas no terceiro trimestre, queda de 0,6 ponto no crescimento mundial e um choque negativo na produtividade.

Vale lembrar ainda que a divulgação foi feita antes de o coronavírus ser classificado como pandemia e instalar nova rodada de pânico. Ou seja, o cenário envelheceu mais depressa que o habitual.

A entrevista de divulgação das projeções foi aproveitada pelas autoridades do Ministério da Economia para uma enfática defesa da manutenção do teto de gastos com está hoje. Foi uma resposta ao crescimento do debate para que se flexibilize esse limite de despesas para combater a crise internacional.

“Teto de gatos é solução, temos que rever nossas despesas obrigatórias”, disse o secretário Adolfo Sachsida, em uma das mais enfáticas manifestações em defesa do limite constitucional de despesas.

O subsecretário Marco Cavalcanti destacou a importância da PEC Emergencial, que reduziria despesas obrigatórias e abriria espaço no orçamento para realização de outras despesas, como investimentos. Nesse sentido, ele apresentou pesquisa com o mercado mostrando que a PEC Emergencial pode reduzir gastos em até R$ 16,6 bilhões. O valor, contudo, tende a ser menor, já que a PEC caminha para ser desidratada.

Discorde-se ou não, fica claro que o time de Paulo Guedes pretende se manter no plano traçado. A dúvida que fica é se a equipe econômica terá condições políticas de conseguir manter sua estratégia com o agravamento da crise.