Valor Econômico, n. 4958, 12/03/2020. Política, p. A10

Derrota do governo pode afetar avaliação do Copom

Alex Ribeiro


A derrubada do veto ao projeto que aumenta em R$ 20 bilhões o gasto do governo com o Benefício de Prestação Continuada (BPC) é mais um fator dentro do balanço de riscos que deverá ser pesado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na próxima semana.

Há pelo menos três anos o Copom vem citando, no seu balanço de riscos, os perigos em torno de uma “eventual frustração em relação à continuidade das reformas e à perseverança nos ajustes necessários na economia brasileira”.

Não está claro, no momento, o quanto a aprovação desse projeto representa um risco para a aprovação das reformas, sobretudo a PEC emergencial, que garante o cumprimento do teto de gastos.

Mas o episódio é um prenúncio de uma “tempestade perfeita” dentro dos cenários do Banco Central. Nos seus documentos oficiais, a autoridade monetária vem lembrando que um risco relevante é justamente a interação de uma piora nas condições financeiras internacionais para as economias emergentes com uma eventual percepção de que as reformas não serão aprovadas.

Nos últimos anos, o Banco Central se viu diante de situações em que uma ou outra dessas variáveis se tornou mais negativa. Até o momento, porém, não havia acontecido de ambas piorarem significativamente ao mesmo tempo.

Em 2017, por exemplo, o “Joesley Day” marcou um período de maior risco para a continuidade das reformas. Mas, naquele período, o ambiente internacional era relativamente favorável para as economias emergentes, enquanto o Federal Reserve fez uma pausa no ciclo de alta da taxa de juros.

No ano seguinte, o Fed subiu os juros, o que provocou um aumento da volatilidade durante o período eleitoral brasileiro. Mas a prisão do ex-presidente Lula, a rejeição de sua candidatura pela Justiça Eleitoral e a vitória de Bolsonaro acalmaram os mercados, que vislumbrou um ambiente mais favorável para a aprovação das reformas.

A derrota do governo no veto ao projeto que amplia o BPC ocorre depois de ruídos na relação entre o governo e o Congresso e também depois de sinais de enfraquecimento do apoio dentro do governo do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Não se sabe, por hora, a extensão da crise política. Historicamente, períodos como o atual, com alta do dólar e perspectiva de desaceleração econômica, costumam colocar pressão no Parlamento para aprovar medidas de austeridade, como ocorreu ao longo dos governos FHC, Lula e Dilma.