Correio Braziliense, n. 21744, 28/09/2022. Política, p. 3

Economistas aderem ao voto útil 

Victor Correia


Às vésperas das eleições, um grupo de 38 economistas aderiu à campanha do voto útil no candidato do PT ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva. Os especialistas enfatizaram, porém, que o apoio ao ex-presidente “é crítico”. Eles deixaram claro que têm “sérias discordâncias a respeito de políticas implementadas no passado” por gestões do PT, mas acrescentaram que reconhecem em Lula “a única liderança capaz de derrotar o atraso maior representado pelo atual governo”.

A carta em apoio ao petista, assinada por acadêmicos de universidades nacionais e internacionais, é basicamente uma lista de críticas contundentes à gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL) em diversos setores.  

“Neste momento crítico da história brasileira, nós (...) economistas que sempre nos posicionamos em favor da estabilidade econômica, do fortalecimento das instituições e da justiça social, nos manifestamos em apoio à candidatura do ex-presidente Lula, já no primeiro turno”, diz o manifesto. “As ações e a inépcia do atual governo causaram um desastre no processo de desenvolvimento institucional e socioeconômico do país, afetando dramaticamente o bem-estar da população brasileira.”

Os economistas citam retrocessos no governo Bolsonaro em áreas estratégicas, como o desmonte da estrutura de fiscalização de crimes ambientais e consequente deterioração do meio ambiente. O documento também classifica como “calamitosa” a política de saúde e afirma que “a gestão da pandemia contribuiu para dezenas de milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas”, além de denunciar “total falta de empatia” do atual presidente com as famílias das vítimas.

A educação e a segurança pública também foram alvo de críticas dos acadêmicos, especialmente a facilitação do acesso da população a armas e munições.

Na economia, a carta cita um desmonte do Orçamento federal e critica as medidas eleitoreiras de Bolsonaro para tentar diminuir a distância em relação a Lula, como o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600 e a criação de benefícios para taxistas e caminhoneiros. Menciona, ainda, que, “apesar da retórica, houve um desmonte da capacidade institucional de combate à corrupção, e várias denúncias envolvendo o atual governo, o próprio presidente e seus familiares não foram esclarecidas”, continua o manifesto.

“Por fim, e ainda mais importante, o atual presidente fez e continua a fazer reiteradas ameaças à democracia, agredindo o Judiciário, afirmando que não respeitará os resultados da eleição e fomentando um clima de profunda instabilidade e o risco real de ruptura institucional”, diz o grupo.

Nos últimos dias, Lula conseguiu conquistar o aval de importantes economistas, como a do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles (União Brasil) e André Lara Resende, que integrou a equipe de criação do Plano Real e foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no governo Fernando Henrique Cardoso.

Além de Resende, cinco outros ministros da gestão FHC participaram de ato, ontem, em apoio a Lula: Aloysio Nunes Ferreira, José Carlos Dias, Claudia Costin e Luiz Carlos Bresser-Pereira e Paulo Sérgio Pinheiro.

 

Críticas

Já a economista Elena Landau acusa Lula de desrespeitar os autores do Plano Real. Coordenadora do programa econômico da candidata do MDB à Presidência, Simone Tebet, ela classificou como “uma questão muito séria” a forma com o petista tratou a herança recebida pelo governo FHC. “Ele diz que foi uma herança maldita. Não adianta ele levar o Geraldo Alckmin (candidato a vice na chapa) e continuar dizendo que pegou um Brasil destruído, porque não é verdade”, destacou, em entrevista ao Estadão, na segunda-feira. “Isso é um desrespeito com todo mundo que trabalhou no Plano Real.”

Para Landau, “o programa do PT é de intervenção de Estado, de reestatização”. “É totalmente distante do que o nosso grupo acredita. Pode ser que o Lula esteja fazendo isso para ganhar a eleição. Pode ser que ele mude de ideia quando assumir. O Lula é uma grande incógnita”, acrescentou.

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