Título: Diferenças afloram e esquentam ambiente
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 14/10/2005, Economia & Negócios, p. A19
As rivalidades expostas ontem no Hotel Glória deixaram claro que o pacto pregado por todos os presentes como única saída para a Varig terá que ser forte para superar as profundas cisões existentes entre os principais atores da recuperação judicial da companhia.
Na primeira grande confusão do dia, o administrador judicial da Varig, João Raimundo Cysneiros Vianna encarou uma ameaça de pedido de prisão, em meio à acirrada disputa entre sindicatos e associações pela representação dos trabalhadores no Comitê de Credores.
Para não prejudicar o andamento da assembléia, Cysneiros decidiu não acatar de imediato a decisão da desembargadora Maria de Lourdes Salaberry, da 8ª turma do Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro, que dava às associações o direito de representar o Sindicato Nacional dos Aeronautas na votação para o Comitê de Credores. Os ânimos, no entanto, acabaram apaziguados e Cysneiros conseguiu costurar um acordo entre os credores trabalhistas, que decidirão sua representação no comitê no próximo dia 18.
- Houve ameaça de prisão. Mas eu não fumo e não bebo. Seria uma prisão tranqüila - brincou Cysneiros depois de fechar o acordo com os representantes dos trabalhadores.
Ao longo de todo o dia, foi grande também a batalha das claques. Sindicatos e associações recebiam aplausos e vaias depois de cada interferência de seus representantes.
Mas o pior aconteceu durante a exposição do plano do Trabalhadores do Grupo Varig (TGV). Bruno Rocha, escalado para apresentar o projeto, comentou que o plano operacional da Lufthansa Consulting era ''nazista'' por prever demissão de 13% da força de trabalho.
O adjetivo mal empregado gerou revolta imediata na direção da Varig e nos representantes da empresa. Irritado, o presidente da aérea, Omar Carneiro da Cunha, com os olhos marejados, retirou-se imediatamente, para voltar apenas no fim da exposição de Rocha.
- Foi uma declaração muito infeliz - resumiu Márcio Marsillac, coordenador do TGV.
Ao final do dia, com os ânimos serenados e pedidos de desculpas aceitos por todos, diretoria, credores e trabalhadores já buscavam entendimento com o objetivo de livrar a companhia da degola. Associações, sindicatos e credores decidiram apoiar a proposta de dar um ponto final às diferenças na próxima semana. (R.R.)