Valor Econômico, n. 4958, 12/03/2020. Internacional, p. A15

OMS enfim declara pandemia, o que ajuda a coordenar ações contra vírus

Assis Moreira 


A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou ontem o coronavírus uma pandemia, ilustrando o agravamento da crise pelo mundo, dias depois de os presidentes Donald Trump, dos EUA, e Jair Bolsonaro, do Brasil, minimizarem os efeitos do vírus.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, observou que o número de casos fora da China subiu 13 vezes nas últimas duas semanas, e o total de casos triplicou para 126 mil em 114 países. A pandemia já matou mais de 4.600.

Nos próximos dias e semanas a OMS tem a expectativa de mais casos confirmados, mais mortes e mais países afetados. “Estamos profundamente preocupados tanto com os níveis alarmantes da propagação e severidade, como pelos níveis alarmantes de inação”, disse Tedros.

Dessa forma, acrescentou, “fizemos a avaliação de que Covid-19 pode ser caracterizado como uma pandemia”. Ele insistiu que isso não muda a estratégia da OMS e insistiu na combinação de contenção do vírus (impedir sua chegada ou que se “instale”) e mitigação.

Conforme analistas, ao considerar o coronavírus pandemia, a OMS coloca pressão adicional para países agirem mais agressivamente na preparação do que ainda está por vir. A avaliação é de que países como EUA precisam intensificar o rastreamento para identificar casos, e a Suíça tem de ampliar os testes - hoje basicamente idosos são submetidas a esses exames.

Se a OMS muda a sua postura, isso tem um efeito “sistêmico” porque os países se apoiam no que diz a organização. Ou seja, em vez de cada país fazer o que achar melhor, os governos tendem a seguir a maior coordenação global no combate ao vírus.

A declaração de pandemia não significa necessariamente que mais restrições serão adotadas pelos países. Mas no Brasil, por exemplo, o aumento de restrições no desembarque de passageiros parece inevitável.

Um fator que pode ter levado a OMS a declarar pandemia é o número de críticas que a entidade vem recebendo de alguns países. Na França, Patrick Zylberman, professor de história da saúde, acusou a OMS de ser hoje o ponto fraco do dispositivo contra o vírus ao se contentar em declarar “urgência de saúde pública internacional” para não incomodar a China.