Valor Econômico, n. 4958, 12/03/2020. Especial, p. A18

Fechar fronteira com Venezuela e antecipar férias escolares viram opção para governo

Rafael Bitencourt
Marcelo Ribeiro
Vandson Lima


Em resposta ao avanço da epidemia do novo coronavírus no Brasil e no mundo, o Ministério da Saúde começa a considerar a possibilidade de adotar medidas mais duras para tentar conter o avanço ainda maior dos casos confirmados da doença.

Ontem, o ministro Luiz Henrique Mandetta admitiu que vai manter conversas com representantes do Ministério da Educação para antecipar as férias escolares e até fechar a fronteira com a Venezuela.

O país vizinho é considerado vulnerável no controle sanitário e sem credibilidade na divulgação de dados oficiais sobre a doença. Durante audiência no Congresso, Mandetta falou sobre a decisão de antecipar as férias escolares, discutida anteontem com o ministro da Educação, Abraham Weintraub, e ressaltou que é preciso se considerar com quem os alunos ficarão em caso de suspensão das aulas.

“Se for para colocar com os avós, vou contaminar aqueles que mais quero proteger, que são os idosos e os doentes crônicos.”

Sobre a possibilidade de fechamento da fronteira com a Venezuela, Mandetta ressaltou que a medida não envolve a divergência política entre os governos, mas tem viés meramente técnico. Ele mencionou que o mundo como um todo desconfia, por exemplo, das informações da Coreia do Norte sobre a inexistência de casos confirmados de coronavírus.

Mandetta argumentou ainda que o governo monitora com atenção o fluxo migratório em outras divisas. Ele citou o da fronteira com o Paraguai nas regiões de Mato Grosso do Sul e da tríplice fronteira, que inclui a Argentina. Lembrou ainda que, embora não tenha alinhamento político com o governo boliviano, o país vizinho colabora ao prestar informações confiáveis sobre o monitoramento de casos e com ações preventivas.

Com a decretação de pandemia mundial pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o governo deixará oficialmente de restringir a investigação de novos casos de coronavírus às pessoas que viajaram para países com transmissão progressiva da doença. “Não vai ser mais necessário ter viajado para EUA, Itália ou Ásia para que se desconfie que o paciente tenha coronavírus”, afirmou o secretário-executivo da Saúde, João Gabbardo dos Reis.

Ontem, os casos confirmados de coronavírus no Brasil subiram para 52, com o Estado de São Paulo respondendo pelo maior número de contágios (30), seguido do Rio de janeiro (13). O número de pacientes com suspeita da doença voltou a subir, atingindo 907 pessoas. Até agora, 935 casos suspeitos já foram descartados após exame laboratorial. O número pode ser maior. O Hospital Albert Einstein informou ter confirmado outros 16 casos em São Paulo que não estão na contagem oficial.

Por precaução, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), impôs medidas de restrição de acesso às dependências da casa. Uma delas prevê que os parlamentares e servidores que estiveram em países com reconhecida transmissão local e apresentem sintomas de infecção respiratória ficarão de quarentena, afastados administrativamente por 14 dias. Questionado sobre a portaria que restringirá o acesso ao Congresso por causa do coronavírus, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que isso precisa ser feito até que se tenha a dimensão do alcance do vírus.