Título: 'Coincidências'
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 14/10/2005, Opinião, p. A10
Mesmo os mais modestos autores de romances policiais evitariam a previsibilidade de tal enredo. São, afinal, tantas as ''coincidências'' envolvendo a morte do prefeito Celso Daniel, assassinado em 2002, que se tornam justificáveis as desconfianças diante do surgimento de um oitavo cadáver envolto no caso, incluindo o do petista. Ontem, novos ingredientes sombrios foram acrescidos à ruidosa e mal contada história do assassinato de Daniel. De acordo com o promotor Roberto Wider, peritos do Instituto Médico Legal investigam a possibilidade de o médico-legista Carlos Delmonte Printes ter sido envenenado. Com base em informações preliminares da necropsia, o Ministério Público de São Paulo já descartara a possibilidade de ter sido morte natural do legista, encontrado na quarta-feira em seu escritório, na capital paulista. Printes foi quem examinou o cadáver de Celso Daniel e concluiu que o prefeito de Santo André havia sido torturado antes de ser morto em 2002.
As conclusões do legista se chocavam com a versão de que Daniel teria sido vítima de um crime comum - defendida, entre outros, pelo deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, designado pelo PT para acompanhar as investigações. Seu procedimento antes da morte foi incomum. Às suspeitas de envenenamento com as primeiras análises do corpo, convém acrescentar o fato de a carta deixada com instruções à família poder ter sido um gesto de quem pressentia a morte. Médico, Delmonte entendia de vida. Legista, entendia mais ainda de morte.
Instalados no poder, os morubixabas petistas entendem de oferecer bruma onde se pede transparência. Os insistentes argumentos, segundo os quais Celso Daniel foi vítima de um crime comum, são tão inverossímeis quanto as desculpas da turma das malas e dos mensalões. Petistas não parecem interessados em enxergar contradições na trama. Não são poucas, porém, as peças reunidas pelo Ministério Público. Há mistérios a elucidar com urgência.