Correio Braziliense, n. 21748, 02/10/2022. Política, p. 4

Quem é quem na corrida ao Planalto



Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Presidente por dois mandatos, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, aos 76 anos, diz disputar a recondução ao Planalto pela última vez. Nascido em Garanhuns (PE), iniciou a vida como muitos nordestinos que migraram para São Paulo em busca de trabalho. Com curso de torneiro mecânico, trabalhou como metalúrgico no ABC Paulista, onde perdeu o dedo mindinho em um acidente, aos 17 anos.

Nas fábricas, Lula também iniciou a carreira política, assumindo cargos na diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos, que presidiu antes dos 30. Em 1980, fundou o Partido dos Trabalhadores, ligado ao movimento sindical. Seis anos depois, foi eleito deputado federal constituinte, para atuar na construção da Constituição de 1988. Nas candidaturas à Presidência, sofreu derrotas em série — 1989, 1994 e 1998 —, até vencer em 2002.  

Os mandatos foram marcados por crescimento econômico, baixa inflação e implantação de programas sociais. Porém, acabaram impactados, também, pelo escândalo do mensalão, envolvendo a compra de apoio no Congresso.

Outro grande escândalo de corrupção o acertou após a saída do governo: o petrolão, investigado pela Operação Lava-Jato, envolvendo desvio de dinheiro da Petrobras. Em 2018, Lula foi condenado e preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o que o impediu de concorrer às eleições daquele ano, nas quais aparecia como líder das pesquisas de intenção de voto. O substituto do ex-presidente no pleito foi Fernando Haddad, que acabou derrotado em segundo turno por Jair Bolsonaro.

Depois de 580 dias na cadeia, Lula ganhou a liberdade em 8 de novembro de 2019. Foi beneficiado com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que derrubou prisão após condenação em segunda instância. Em junho do ano passado, o plenário da Corte reconheceu a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro na condenação do petista. Ao todo, foram derrubados 26 processos contra o ex-presidente, originários da Lava-Jato, o que o tornou apto a disputar as eleições de hoje.   

Com a ideia fixa de uma frente ampla, desde que decidiu concorrer  novamente, a principal aliança firmada por Lula nesta campanha foi com o ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice na sua chapa. A coligação reuniu 10 partidos: PT, PSB, PCdoB, PV, PSol, Rede, Solidariedade, Agir, Pros e Avante. A dobradinha improvável, entre dois adversários históricos, começou a ser desenhada ainda no ano passado e foi tornada pública após um jantar entre os dois, em São Paulo, organizado pelo Grupo Prerrogativas — formado por advogados que também atuam no diálogo de Lula com setores mais à direita.

Ao ser anunciada, a chapa sofreu forte resistência dentro do PT. Nos bastidores, líderes do partido dizem que o benefício de se aliar ao antigo rival é maior do que a rixa. Em público, a presença do ex-governador na chapa atrai eleitores resistentes a Lula, especialmente em São Paulo. Com atuação discreta, Alckmin articula com empresários, agronegócio e outros setores estratégicos.  

Nesta reta final, Lula focou em atrair aliados improváveis. Aderiram à campanha petista cinco ex-presidentes do Supremo Tribunal Federal, incluindo Joaquim Barbosa, relator do mensalão; cinco ministros do governo Fernando Henrique Cardoso; o jurista Miguel Reale Júnior, um dos autores do impeachment contra a presidente Dilma Rousseff; e a ex-ministra Marina Silva.

Ontem, no último ato antes do primeiro turno, Lula e Alckmin fizeram uma caminhada com apoiadores em São Paulo. 

 

Jair Bolsonaro (Pl)

Alavancado pela onda antipetista, Jair Bolsonaro (PL), à época no PSL, foi eleito presidente em 2018 com 57,7 milhões de votos (55,13% do eleitorado), batendo Fernando Haddad (PT), que teve 47 milhões de votos (44,87%). O mote principal foi a promessa de combate à corrupção, alimentada pela Operação Lava-Jato.

Com pouco tempo de propaganda de rádio e TV e sem recursos, Bolsonaro fez das redes sociais sua principal plataforma e, por meio delas, propagandeou seus ideais conservadores — defendidos até hoje — como a pauta antiaborto, contra a legalização da maconha, de combate ao que chama de “ideologia de gênero” e a favor do armamento da população civil.

Em Juiz de Fora (MG), a pouco menos de um mês das eleições, o então candidato foi vítima de um atentado à faca, que deu novo rumo à candidatura e fez com que Bolsonaro escalasse as pesquisas até a vitória em segundo turno.

 Capitão reformado do Exército, Bolsonaro foi vereador no Rio de Janeiro e deputado federal ao longo de 27 anos, em mandatos sucessivos, em que priorizou a defesa de interesses corporativos de militares, a redução da maioridade penal, o direito à legítima defesa e o excludente de ilicitude a policiais. Também encampou a defesa do voto impresso no Brasil, levantando suspeitas — nunca comprovadas — sobre a inviolabilidade dos votos na urna eletrônica.

 Nascido em Glicério, no interior de São Paulo, em 21 de março de 1955, Jair Messias Bolsonaro foi registrado em Campinas. Ele é descendente de imigrantes italianos, que chegaram ao Brasil depois da II Guerra Mundial. Filho de Percy Geraldo Bolsonaro e de Olinda Bonturi Bolsonaro, o presidente é casado com Michelle Bolsonaro, com quem teve sua quinta filha, Laura.  

Aos 64 anos, Bolsonaro também é pai do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e de Jair Renan, a quem costuma se referir como 01, 02, 03 e 04, respectivamente.

Bolsonaro coleciona um extenso histórico de declarações polêmicas relacionadas ao machismo, à homofobia e ao racismo. Em 2014, atacou a parlamentar Maria do Rosário (PT-RS) ao dizer que ela “não merece (ser estuprada) porque ela é muito ruim, porque é muito feia” e que “jamais a estupraria”. Durante o pico da pandemia de covid-19, que já vitimou mais de 686 mil brasileiros, pregou contra a vacinação, disse que a doença era uma “gripezinha”, negou “ser coveiro”, defendeu medicamentos sem eficácia comprovada e postergou a compra de vacinas.

Para atrair o eleitor mais pobre, Bolsonaro aumentou nos últimos meses o valor do Auxílio Brasil, do vale-gás e criou subsídios para caminhoneiros e taxistas. Também baixou artificialmente os impostos sobre combustíveis para domar a inflação, mas não conseguiu reduzir a rejeição ao seu nome, acima de 50% do eleitorado.  

No 7 de Setembro de 2021, fez pesadas críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao ministro Alexandre de Moraes, ameaçando não cumprir mais decisões da Suprema Corte. Dois dias depois, precisou baixar a temperatura política e divulgou uma carta de recuo, escrita com ajuda do ex-presidente Michel Temer.  

Segundo a Secretaria Especial de Comunicação, hoje, Bolsonaro votará na Escola Municipal Rosa da Fonseca, na Vila Militar, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e retornará a Brasília para acompanhar, do Palácio da Alvorada, a apuração dos votos ao lado de parentes e aliados. Ontem, o candidato encerrou a campanha participando de duas “motociatas”: em São Paulo, pela manhã, e em Joinville (SC), à tarde.

 

Ciro Gomes  (PDT)

Com 40 anos de vida pública, Ciro Gomes (PDT) tenta chegar à Presidência pela quarta vez. Mas a campanha dele já começou com problemas. Não conseguiu consenso dentro do próprio partido, foi malsucedido na busca por alianças e acabou impactado, também, pela polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).  

Nascido em Pindamonhangaba (SP), o candidato, de 64 anos, centrou fogo, na campanha, no ex-companheiro Lula, a quem igualou a Bolsonaro. Nesta reta final, se ressentiu ainda mais com o petista pela campanha do voto útil, que fez o ex-presidente atrair parte de seus apoiadores — caso do cantor Caetano Veloso. Também nessa linha, foi alvo de uma carta de intelectuais e políticos da América Latina, que pediram sua desistência da corrida eleitoral em prol de Lula.

Ontem, Ciro causou controvérsia nas redes sociais ao postar uma foto ao lado de Bolsonaro. Na imagem, feita no debate na TV Globo, ele faz o 12 com as mãos, enquanto o presidente aparece à direita, lendo papéis.

“Amanhã é dia de apertar o 12 e se livrar dessa polarização cheia de ódio, incompetência e ladroeira que tá afundando nosso país”, escreveu ele, que, na rivalidade com o PT, rompeu até com a família no Ceará. (Henrique Lessa) 

 

Simone Tebet (MDB)

O caminho que levou a candidata Simone Tebet (MDB), 52 anos, à disputa pela Presidência começou a ser aberto com sua performance na CPI da Covid. Aos poucos, a senadora conquistou o espaço que a ajudou a definir sua vaga no jogo eleitoral.

Nascida em Três Lagoas (MS), filha do ex-senador Ramez Tebet, a presidenciável apareceu como opção da terceira via. Mesmo assim, não conseguiu unir o próprio partido em torno do seu nome. Uma ala da legenda defendeu o apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno e chegou a recorrer à Justiça contra a candidatura dela.

Na campanha, a senadora destacou o fato de ser mulher, mãe e parlamentar experiente, além de baixa rejeição entre o eleitorado. Focou em propostas para a educação e bateu na tecla do combate à miséria — enfatizou que, se eleita, “nenhuma criança vai mais dormir com fome”. Mesmo assim, não deslanchou nas pesquisas de intenção de voto.  

A presidenciável encerrou campanha, ontem, com ato na quadra da escola de samba Caprichosos do Piqueri, na capital paulista. Ela esteve ao lado do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). À tarde, a senadora viajou a Campo Grande, onde votará hoje. (Tainá Andrade)

 

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