Título: Guerrilha chechena desafia Putin
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Fonte: Jornal do Brasil, 14/10/2005, Internacional, p. A12

Rebeldes chechenos atacaram ontem a polícia russa na cidade de Nalchik, em Kabardino-Balkaria, Norte do Cáucaso, deixando pelo menos 62 mortos, entre agressores, civis e policiais, e mais de 100 feridos. O incidente foi um desafio ao Kremlin, que afirma ter sob controle a situação na região. À noite, oito guerrilheiros continuavam entrincehirados em dois prédios da cidade. A polícia deu prazo para que se rendessem.

A ação, conduzida por entre 100 e 300 combatentes armados, teve como alvos três delegacias de polícia, as sedes locais do Ministério do Interior e do Serviço Federal de Segurança (FSB), e uma loja de armas. Algumas horas antes, os rebeldes tentaram atacar o aeroporto, mas foram repelidos. Os números ainda são incertos. Segundo o procurador do Estado, Vladimir Kolesnikov, 20 atacantes foram mortos e 12 capturados. Já a polícia diz que 50 combatentes morreram e 17 foram presos.

- Começou às 9h. Estavam atirando para todos os lados - contou Makhmud, morador da cidade.

Disposto a não permitir que se repetissem os erros cometidos durante o seqüestro da escola de Beslan, o presidente da Rússia, Vladimir Putin foi rápido. Ordenou que a cidade fosse fechada e mandou matar qualquer pessoa armada ''que tentasse resistir''.

- Ninguém entra ou sai sem ser revistado - afirmou o vice-ministro do Interior, Alexander Chekalin. - Agora, nossa tarefa é achar os bandidos - completou.

As ruas estavam desertas no começo da noite.

- Mantenha a cabeça abaixada, pode haver atiradores - gritou um policial a um homem que passava próximo à delegacia.

O ataque foi o maior desde que Abdul-Khalid Sadulayev assumiu a liderança dos separatistas, em março. A operação é a mais recente de uma onda de ataques ao Cáucaso, região muçulmana próxima à Chechênia, onde tropas russas estão desde outubro de 1999.

Os separatistas assumiram a operação: ''Destacamentos da Frente Caucasiana, que integra as forças armadas da República de Itshkeria (nome da Chechênia independente), e o contingente de choque, Yarmuk, de Kabardino-Balkaria, entraram na cidade'', dizia o comunicado.

Em setembro de 2004, a cidade de Beslan, na província da Ossétia do Norte, foi palco de uma das maiores ações separatistas. Os rebeldes mantiveram 1.251 pessoas como reféns numa escola, e o episódio terminou com o massacre de 331 pessoas, metade delas crianças.

Na época, Putin foi duramente criticado pela lenta reação ao seqüestro. Dessa vez, preferiu agir imediatamente. As forças de segurança da região já haviam sido atacadas ano passado, em Nazran. Cerca de 90 pessoas morreram na ação, liderada pelo líder separatista Shamil Bassaev. Na ocasião, os rebeldes tomaram o controle da capital da Inguchétia, vizinha à Kabardino-Balkaria.