Valor Econômico, n. 4959, 13/03/2020. Política, p. A6

Secretário tem coronavírus; Bolsonaro passa por exame

Fabio Murakawa
Matheus Schuch
Andrea Jubé

O secretário especial de Comunicação Social da Presidência, Fabio Wajngarten, testou positivo para o coronavírus ontem, um dia após ter retornado dos Estados Unidos no avião presidencial. A confirmação da doença levou o presidente Jair Bolsonaro, bem como toda a comitiva de ministros, parlamentares, secretários e assessores, a passarem por exames para a detecção da doença.

Wajngarten está em São Paulo, em isolamento domiciliar e seguindo o protocolo de quarentena recomendado pelas autoridades sanitárias.

A saúde do presidente Jair Bolsonaro está sendo monitorada. Ele passou o dia inteiro de ontem no Palácio da Alvorada. Não saiu da residência oficial nem para cumprimentar os fãs ou despachar no Palácio do Planalto.

Wajngarten e Bolsonaro estiveram nos Estados Unidos entre o sábado e a terça-feira. Eles se encontraram na viagem com o presidente americano Donald Trump. O secretário apareceu em fotografias ao lado dos dois presidentes e do vice, Mike Pence.

Também integraram a comitiva os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Bento Albuquerque (Minas e Energia) e Fernando Azevedo (Defesa), além do assessor internacional Filipe Martins, o secretário da Pesca, Jorge Seif, e o presidente da Embratur, Gilson Machado.

Filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-PS) também viajou. Outros parlamentares que integraram a delegação foram. O deputado Daniel Freitas (PSL-SC) e os senadores Nelsinho Trad (PTB-MS) e Jorginho Mello (PTB-MS).

Todos foram submetidos a exames, estão sob monitoramento e receberam recomendação do Planalto para entrarem em contato caso apresentem sintomas.

O ministro da Defesa decidiu despachar em casa. Albuquerque, por sua vez, trabalhou por videoconferência. O resultado de seu exame, um dos primeiros a serem divulgados, deu negativo para o coronavírus. O teste feito por Augusto Heleno deve ficar pronto na tarde de hoje.

Bolsonaro cancelou viagem que faria ontem a Mossoró (RN). Ele suspendeu sua agenda oficial para os próximos dias e recebeu a recomendação de auxiliares para evitar aglomerações.

Fontes afirmam que ele não apresentou sintomas da doença. À noite, em live no Facebook, ele apareceu com uma máscara cirúrgica ao lado do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que também estava mascarado.

“Se der positivo o presidente vai ter que despachar daqui [no Palácio da Alvorada]. A gente vai recomendar o isolamento domiciliar”, disse Mandetta. “Se não der, ou der outro vírus, que é mais comum, que é o influenza, a gente libera, vida que volta ao normal.”

Na transmissão, Mandetta listou, a pedido de Bolsonaro, os riscos da covid-19 para pessoas acima de 60 anos, caso do presidente, que tem 64 anos.

“A grande maioria sai muito bem, obrigado. Faz um quadro de resfriado, gripe, tem que manter cuidado por conta das outras pessoas”, afirmou Mandetta, recomendando que as pessoas usem álcool gel e lavem as mãos.

“Vamos lutar muito. Alguns dias serão bons, outros difíceis, mas com certeza o Brasil vai sair dessa”

O ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, convocou reunião ministerial para hoje às 10h30, a fim de discutir as medidas de combate aos efeitos da escalada do coronavírus no Brasil.

Participam, além de Mandetta, os ministros da Economia, Paulo Guedes, da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, do Gabinete de Segurança Institucional, August Heleno.

Em monitoramento, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, deve enviar representante. Aguardando resultado do exame, o presidente Jair Bolsonaro não deve participar.

Uma das pautas deve ser o mecanismo para que o Congresso autorize a suplementação orçamentária de R$ 5 bilhões reivindicada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e por Mandetta para enfrentamento da pandemia em todo o país, se será enviada medida provisória ao Legislativo ou projeto de lei.

O ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, está retornando hoje dos Estados Unidos e também se submeterá ao teste.

Embora doente, Wajngarten teve ontem o comportamento criticado por colegas por não haver seguido todos os protocolos e haver viajado de Brasília para São Paulo, apesar de já apresentar sintomas da doença.

Funcionários também reclamavam de seu braço direito, Samy Liberman, o número 2 da Secom, que também viajou aos EUA.

Liberman circulou ontem normalmente pelo Palácio, para a apreensão dos demais servidores. Segundo relatos ouvidos pelo Valor, o auxiliar de Wajngarten foi compelido pelos colegas a voltar para casa. Ele saiu do Palácio no início da tarde.