Valor Econômico, n. 4959, 13/03/2020. Política, p. A9

Países da América do Sul aceleram medidas de combate ao coronavírus

Marina Guimarães
Marsílea Gombata



A Argentina endureceu as medidas para enfrentar a propagação do coronavírus. Ontem o governo declarou estado de emergência sanitária e proibiu a realização de grandes eventos, assim como voos provenientes de países onde a pandemia avança. O país, da mesma forma que outros na América do Sul, vem avançando mais que o Brasil em medidas de combate à epidemia.

Por meio de decreto, o presidente argentino, Alberto Fernández, declarou emergência sanitária e proibiu por um mês voos procedentes de países da Europa, EUA, China, Coreia do Sul, Japão e Irã. Haverá exceções para argentinos nesses países poderem regressar à Argentina.

O governo também determinou quarentena de 14 dias para quem regressar de um país onde o coronavírus vem avançando e apresentam sintomas da doença, e prevê multa e prisão para quem não o fizer. O decreto foi assinado ontem.

Segundo o Ministério de Saúde da Argentina, o país tem 30 casos confirmados e uma morte.

Na quarta-feira, Fernández já havia feito um apelo para que pessoas com mais de 65 anos façam um “isolamento social”, evitem utilizar transporte público e participar de reuniões. O governo também suspendeu por um mês todas os eventos esportivos com participação internacional.

Várias cidades e Províncias do país decidiram cancelar eventos. O prefeito da capital, Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, proibiu a participação do público em competições esportivas e a realização de concertos, espetáculos e shows, como o festival Lollapalooza, previsto para os dias 27, 28 e 29 deste mês. Também fica restrito o acesso a museus - vários anunciaram a suspensão temporária de suas atividades. Cassinos e hipódromos ficarão fechados.

“Vamos restringir todas as atividades de alta concentração de pessoas que não sejam essenciais para o funcionamento normal da cidade”, disse Larreta. Ele acrescentou que as partidas de futebol serão mantidas, mas sem público.

O governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, decretou emergência sanitária por 180 dias para dar uma “resposta imediata” à fase atual da epidemia.

Para Rodolfo Kauffmann, médico especialista em políticas públicas de saúde da Universidade Nacional de Tres de Febrero (UNTREF), as medidas adotadas vão na direção correta e estão de acordo com a urgência do estágio atual da doença. “Diante desse tipo de situação, as decisões têm de ser coordenadas como estão sendo, com diálogo fluido entre autoridades e especialistas”, afirmou ao Valor.

Além da Argentina, a Colômbia também declarou “emergência sanitária” até dia 30 de maio e ordenou o cancelamento de todos os eventos públicos com mais de 500 pessoas. O governo paraguaio foi na mesma linha e anunciou a suspensão de eventos públicos e atividades educacionais por 15 dias.

No Peru, o governo suspendeu aulas de escolas privadas. O início do ano letivo dos colégios públicos, previsto para 16 de março, foi adiado para o dia 30.

No Chile, a participação de deputados em sessões de organismos internacionais está suspensa. O governo solicitou à Associação Nacional de Futebol Profissional do Chile que as partidas da primeira divisão e da série B sejam feitas sem público, para reduzir o risco de contágio.

No Equador, o governo proibiu eventos com mais de mil pessoas e suspendeu todas as aulas escolares a partir de hoje. A Bolívia também decidiu cancelar as aulas até 31 de março e proibiu voos vindos de países europeus. Proibiu também eventos com mais de mil pessoas.

Na Venezuela, o governo proibiu voos da Europa e da Colômbia por um mês.

Uruguai e México não suspenderam as aulas nem voos de outros países. No México, o subsecretário de Saúde, Hugo López-Gatell, disse que não pretende restringir viagens nem fechar fronteiras e portos, pois são medidas “sem fundamento científico” e que alteram o comércio internacional. (Com agências internacionais)