Correio Braziliense, n. 21755, 09/10/2022. Política, p. 2

Bolsonaro opta pela discrição no Círio

Taísa Medeiros


Sem discursar, o presidente da República e candidato à reeleição participou, ontem, do Círio de Nazaré, em Belém do Pará. Trata-se de um evento da Igreja Católica, com mais de 200 anos de tradição, que foi realizado sob responsabilidade da Arquidiocese de Belém. Bolsonaro estava acompanhado das deputadas federais Carla Zambelli (PL-SP) e Bia Kicis (PL-DF) a bordo da corveta Garnier Sampaio, da Marinha, embarcação que leva a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré.

A procissão fluvial faz parte das 13 romarias do Círio de Nazaré — uma das maiores festas religiosas católicas do mundo (leia mais na página 6). O formato tradicional do evento foi retomado este ano, após a pandemia de covid-19. Bolsonaro já havia participado em 2015, quando era deputado federal. Já na edição de 2022, estava como chefe de Estado, e não como candidato ao Planalto, apesar de o ato ter sido interpretado como parte de sua campanha. O presidente chegou a Belém no fim da tarde de sexta-feira, e no sábado pela manhã acompanhou a romaria dentro da corveta da Marinha Garnier Sampaio. O chefe do Executivo saiu logo depois em uma embarcação menor, sem falar com a imprensa.

Centenas de embarcações participaram da romaria. A Arquidiocese de Belém divulgou uma nota sobre a presença do presidente da República no Círio de Nazaré. “Comunicamos não ter havido nenhum convite da parte da Arquidiocese de Belém, nem da Diretoria da Festa de Nazaré, a qualquer autoridade, seja em nível municipal, estadual ou federal”, diz a nota. “Temos o dever de observar a plena liberdade de qualquer cidadão ou cidadã de participar dos eventos do Círio de Nazaré. Todavia, não desejamos e nem permitimos qualquer utilização de caráter político ou partidário das atividades do Círio”, conclui. O comunicado é assinado por Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo metropolitano de Belém e foi divulgado na noite de sexta-feira (7/10).

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal oponente de Bolsonaro, foi convidado para o evento, mas recusou, com a justificativa de que teme interpretações de que utiliza “religião para fazer política”. “Eu não gosto de fazer nenhum gesto que possa parecer que eu estou utilizando a religião para fazer política. Uma das coisas que eu tinha vontade de ver há muito tempo é o Círio de Nazaré, mas eu não vou porque é um ano de eleição”, disse, no Twitter. A esposa de Lula, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, foi ao Círio para agradecer pelo primeiro turno eleitoral.

 

“Sírio”

Bolsonaro chegou a publicar uma foto no evento, na qual escreveu na legenda “Sírio de Nazaré”. O erro gramatical foi ironizado por críticos do presidente. “Ei, Bolsonaro! Sei que você não conhece nada sobre o país que governa, mas pelo menos deveria saber escrever o nome da maior manifestação religiosa do mundo”, disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) no Twitter.

“Sírio é quem nasce na Síria. Círio de Nazaré. É que digo: é um falso religioso, que nada conhece da fé cristã e nunca leu a Bíblia”, publicou o ex-governador do Maranhão Flávio Dino (PSB) na mesma rede social. A foto foi apagada e o erro foi corrigido em alguns minutos.

O prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (PSol), se disse indignado por Bolsonaro “ter usado” a festa religiosa como palanque. Em vídeo divulgado após a chegada do presidente ao Pará, o prefeito disse que “nenhum político tem direito de usar a fé” do povo. “A fé de todos os paraenses não pode ser sequestrada por uma candidatura à presidência, aliás de um candidato que sequer é católico”, criticou.

 

Leia em: https://flip.correiobraziliense.com.br/edicao/impressa/3814/09-10-2022.html?all=1