Título: Nunca se roubou tanto
Autor: Marcelo Medeiros
Fonte: Jornal do Brasil, 17/10/2005, Outras Opiniões, p. A15

Causou indignação, a reunião de solidariedade do presidente Lula com os deputados petistas que estão ameaçados de perder o mandato. O ministro Antônio Palocci endossou o apoio presidencial, afirmando: ''Vocês estão pagando um preço muito alto por uma coisa que é reprovável...''

Os deputados cassáveis, defendidos por Lula, são acusados de terem recebido o dinheiro espúrio que alimentava o caixa dois do PT.

Para o ministro Palocci, eles praticaram ''uma coisa reprovável...''. Para o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, eles são bandidos: ''Caixa dois é coisa de bandido''.

Lula, cínico, afirma que os parlamentares e os partidos políticos no Brasil, sempre usaram o caixa dois nas suas campanhas eleitorais. O presidente esquece que as eleições no Brasil ocorrem de dois em dois anos, mas a roubalheira e o caixa dois no seu governo, são permanentes. Locupletam-se o PT, os partidos coligados e, em proveito próprio, a companheirada petista, seus familiares e agregados.

Tentando confundir a opinião pública, Lula quer comparar menos de duas dúzias de deputados corruptos - a maioria do PT - com os 513 deputados e os 81 senadores, que integram o Congresso Nacional.

A frustração, a desesperança, a sensação de desânimo paralisam o povo brasileiro. Na maior crise de corrupção de nossa história, a sociedade ainda não se mobilizou, efetivamente, para defender a Nação da quadrilha que se instalou no país.

Deve-se à Folha de S. Paulo a divulgação do levantamento, realizado pelo Tribunal de Contas da União, de irregularidades, no valor de R$ 55 milhões, em contratos da Petrobrás na Bahia.

Mais de R$ 200 milhões, circularam em dezenas de contas de Marcos Valério e de suas empresas, para abastecer políticos e dirigentes partidários corruptos.

A CPI dos Bingos, criada no Senado, é a única em que a oposição tem maioria e promete resultados. As outras estão cheirando à pizza.

O senador Garibaldi Alves, explica que a CPI dos Bingos, da qual é o relator ''apura também a lavagem de dinheiro e o crime organizado, que chegam ao jogo, aos transportes, à coleta de lixo'', referindo-se à administração do ministro Palocci, na prefeitura de Ribeirão Preto.

''O presidente Lula achou que seu secretário particular, Gilberto Carvalho, deveria ser poupado da acareação com os dois irmãos de Celso Daniel'' (prefeito de Santo André, assassinado em 2002, cujo processo criminal, corre em segredo de justiça, e até hoje, nada foi apurado). ''Mas não havia como atender às expectativas do presidente'', explica o senador Garibaldi, diante do depoimento dos irmãos do prefeito assassinado. Segundo eles, Gilberto Carvalho levava o dinheiro proveniente da corrupção para o deputado José Dirceu.

''Estranhei também'', diz o senador Garibaldi Alves, ''o presidente Lula desconhecer que o Tribunal de Contas da União já apurou que o contrato'' - patrocinado pelo lobby petista - entre a Caixa Econômica Federal e a empresa GTech, para administração dos jogos da Loteria Esportiva, ''deu um prejuízo à Caixa de R$ 433 milhões''.

Em artigo ao Estado de S. Paulo, o professor Carlos Alberto Di Franco afirma que ''a nostálgica canção de Vinicius de Morais - a gente trabalha o ano inteiro para fazer a fantasia de Rei ou de Pirata ou de Jardineira, para tudo se acabar na quarta-feira - não pode continuar forjando o futuro''.

Num arroubo de hipocrisia, vangloria-se Lula: ''estamos é dando uma lição ao mundo. Qual governo na história deste país funcionou com três CPIs?''

Senhor presidente, em qual governo, na história deste país, roubou-se tanto, quanto neste de Vossa Excelência e do PT?