Título: BNDES renova apostas para 2006
Autor: Daniele Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 17/10/2005, Economia & Negócios, p. A17

Banco aprova orçamento de R$ 60 bilhões, apesar de desembolsos não acompanharem crescimento do caixa

Com aposta no crescimento da demanda por crédito nas áreas de infra-estrutura e insumos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou em sua última reunião do conselho administrativo, em setembro, orçamento de R$ 60 bilhões para 2006, montante igual ao previsto para este ano. A cifra, no entanto, se revela ambiciosa, uma vez que, até setembro deste ano, pouco mais da metade disso, apenas R$ 31,2 bilhões, foram desembolsados pelo banco. O desempenho abaixo do esperado nos nove meses deste ano levou o presidente do BNDES, Guido Mantega, a rever a liberação de crédito para R$ 50 bilhões, mas há quem acredite que mesmo assim a meta dificilmente será atingida. Em 2004, na gestão de Carlos Lessa, a liberação de recursos também ficou abaixo do estimado. Dos R$ 47,3 bilhões previstos, só R$ 40 bilhões foram utilizados.

A explicação para o ritmo lento neste ano estaria na redução de financiamentos para equipamentos agrícolas e de crédito para o setor elétrico.

- A estiagem e a queda na cotação de alguns produtos agrícolas fez com que a resposta do setor não fosse como esperávamos - justifica o superintendente de Planejamento do BNDES, Aluysio Asti.

Para o ano que vem, no entanto, o banco renova as expectativas, pelo menos, para o setor elétrico. De acordo com Asti, será justamente este segmento que vai puxar os desembolsos em infra-estrutura. Devido aos atrasos na concessão de licenças ambientais, principalmente para hidrelétricas, muitos projetos foram atrasados e só terão seus empréstimos liberados no ano que vem. O banco também se prepara para a demanda que vai surgir dos leilões de energia nova, ou seja, da eletricidade que será gerada em usinas que ainda serão construídas.

Neste sentido, o banco já iniciou a elaboração de uma linha especial de crédito para novas usinas, sejam hidrelétricas, termelétricas ou de biomassa. O financiamento também atenderá às empresas interessadas em linhas de transmissão.

O BNDES também prevê grandes desembolsos nos setores de siderurgia, petroquímica e papel e celulose. Somente a Companhia Vale do Rio Doce tem dois grandes negócios em andamento, o da siderúrgica do Ceará e a de Sepetiba. No segmento de papel e celulose, a Stora Enso anunciou há duas semanas que vai aumentar a área de cultivo no país e erguerá uma unidade no Rio Grande do Sul.

- Os fatores que levaram ao desempenho abaixo do esperado são pontuais. E a economia dá sinais positivos, como o aumento do desembolso para a aquisição de equipamentos para a indústria, por exemplo, o que nos fez optar pelo montante de R$ 60 bilhões - explica Asti.

Apesar de abaixo do esperado, o desembolso nos primeiros nove meses deste ano foi 12% superior ao de igual período em 2004. As aprovações de financiamento subiram 47% e chegaram a R$ 36,1 bilhões. Os enquadramentos (pedidos de financiamento habilitados a receber apoio) cresceram 19% e as cartas-consulta totalizaram R$ 65,2 bi.