Título: Juro mais baixo fica para 2006
Autor: Kelly Oliveira
Fonte: Jornal do Brasil, 17/10/2005, Economia & Negócios, p. A18

Queda da taxa só chegará ao varejo no ano que vem

BRASÍLIA - Os consumidores vão demorar a sentir os efeitos da trajetória de queda que deve assumir esta semana a taxa básica de juros (Selic). Apesar da expectativa de redução dos atuais 19,50% para 19% na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima terça e quarta-feiras, o alívio só será sentido pelos consumidores no final de 2006. A perspectiva, segundo economistas, é de que a taxa chegue a 14% no último trimestre do próximo ano, quando deverá ocorrer uma redução mais acentuada dos juros cobrados pelos bancos e no comércio. A redução da Selic diminui a atratividade das aplicações em títulos da dívida pública. Com isso, sobra mais dinheiro no mercado financeiro para operações de crédito, o que exerce pressão para baixo tanto nas taxas de juros dos empréstimos para as empresas quanto para as pessoas físicas.

Apesar de uma redução efetiva dos juros bancários ainda estar distante, os primeiros sinais de queda da Selic começaram a aparecer para o consumidor. Segundo pesquisa da Fundação Procon-SP junto aos dez principais bancos do país, com o corte da Selic em setembro, de 19,75% para 19,50%, a taxa média do empréstimo pessoal cobrado pelos bancos recuou 0,04 ponto percentual, passando de 5,46% para 5,42% ao mês. Essa foi a primeira queda da taxa média desde dezembro de 2004, quando passou de 5,25% para 5,22%. No cheque especial, a taxa média permaneceu no mesmo percentual de setembro: 8,32% ao mês.

Segundo a Fundação Procon-SP, cabe ao consumidor ter cautela na hora de pegar um empréstimo ou utilizar o cheque especial. Isso porque, segundo o instituto, o Brasil ainda está na liderança do ranking mundial de juros reais. Desde setembro de 2004, quando ultrapassou a Turquia, o país tem a maior taxa do mundo, de 14,3%.

Vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Roberto Zertanatti lembra que mesmo com a possível redução da Selic a 14% ao final de 2006, o Brasil continuará com uma das maiores taxas de juros reais, que devem ficar entre 8% e 9%. Segundo Zertanatti, a taxa média de empréstimos cobrados pelos bancos está em cerca de 80% ao ano, e deve apresentar redução de cinco pontos percentuais até o fim de 2006.

O economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Roberto Troster, afirma que deve haver uma melhora para os consumidores nas taxas cobradas pelos bancos em 2006. Não arrisca, no entanto, uma previsão, com o argumento de que os bancos avaliam outras variáveis, além da redução da Selic, na hora de reduzir as taxas de empréstimos. Entre as variáveis, estão as mudanças na tributação e as perspectivas de emprego. Segundo Troster, também são avaliados eventuais subsídios para segmentos específicos, como o crédito para o produtor rural.