O Globo, n. 32562, 01/10/2022. Economia, p. 13
Menor taxa em 7 anos
Carolina Nalin
Caroline Nunes
Em um sinal de recuperação do mercado de trabalho, a taxa de desemprego recuou para 8,9% no trimestre encerrado em agosto. Trata-se do menor patamar desde julho de 2015, ou seja, o menor nível em sete anos, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. O país ainda tem 9,7 milhões em busca de uma oportunidade. Especialistas avaliam que a melhora está amparada na expansão do emprego formal e da população ocupada, que bateu recorde e chegou a 99 milhões de pessoas. Outro sinal que aponta uma trajetória mais favorável foi o comportamento da renda. Em relação a agosto do ano passado, ela ficou estável pela primeira vez após a pandemia. O salário médio do trabalhador brasileiro chegou a R$ 2.713 em agosto, o que indica estabilidade na comparação com igual período do ano passado (R$ 2.730). Em relação ao trimestre encerrado em maio, houve alta de 3,1%. Segundo Adriana Beringuy, coordenadora da pesquisa do IBGE, a melhora no rendimento está associada à expansão da ocupação com carteira assinada, que oferece salários maiores, e principalmente à retração da inflação.
Informalidade alta
Mesmo diante da leitura de avanços no mercado de trabalho, ainda persistem sinais de precariedade. Houve aumento de 1,1% no contingente de profissionais com carteira assinada, que agora somam 36 milhões. Masa recuperação também se dá ancorada na ampliação de vagassem proteção. Há 13,2 milhões sem carteira assinada no setor privado, o maior nível da série histórica, que começou em 2012. Quando se incluem nesta conta outros trabalhadores sem benefício, com opar tedos conta própria e os domésticos sem carteira, a informalidade atinge 39,3 milhões de pessoas. — Embora haja um indicativo de crescimento da carteira de trabalho, a população ocupada informal permanece com participação extremamente relevante, seja no processo de recuperação ou de manutenção da ocupação. Ou seja, não necessariamente os informais estão passando a ser formais no mercado de trabalho. Reportagem publicada no GLOBO nesta semana mostra que a recuperação na criação de vagas tem sido acompanhada também de baixa remuneração. Quase 70% dos trabalhadores ganham até dois salários mínimos. Thiago Barreto, de 22 anos, ficou desempregado no início da pandemia. Durante dois anos enviou currículos e ouviu respostas negativas. O jovem, que mora coma família, fi cousem ter como contribuir em casa e passou a acumular dívidas. Os estudos também foram afetados, e ele precisou largar o curso de educação física, pois não conseguia mais arcar com as mensalidades. A virada aconteceu neste ano, e ele começou nesta semana a trabalhar como vendedor em uma loja de roupas com carteira assinada: —Agora o coração fica mais tranquilo, mas só vai ficar 100% quando eu retomar minha vida de onde parei. Abri mão de muita coisa nesse tempo, mas o bom é que estou em um emprego fixo. Quando tudo se estabilizar, pretendo voltar para a faculdade. Analistas apontam que o quadro positivo no mercado de trabalho tende a perder força em razão dos efeitos da economia global e do impacto do ciclo de aumento da taxa básica de juros, que chegou a 13,75% ao ano. A perspectiva é de desaceleração no ritmo de criação de vagas. Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, a taxa de desemprego deve cair para 8,7% até o fim do ano, mas a trajetória começa a se inverter a partir do ano que vem em razão dos efeitos na economia do ciclo de aumento de juros (que levou a taxa a 13,75% ao ano) e da desaceleração global: — Projetamos que a taxa de desemprego volte a subir e termine 2023 em 9,5%. Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, prevê que já no fim deste ano os efeitos da política monetária mais austera farão o desemprego voltar a subir: — A gente está projetando que o próximo mês [setembro] vai continuar esse processo de melhora até chegar a 8,6%, mas essa taxa benigna não deve se manter até o final do ano por conta dos juros. Esse efeito deve ir se agravando no início do ano que vem e cessar somente no último trimestre de 2023, fechando o desemprego em patamar abaixo de 9%, mas ainda pior que 2022.
Procura por trabalho
A XP calcula que a taxa de desemprego encerre o ano em 8,5%, na série com ajuste sazonal. Segundo Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), este percentual estaria dentro da chamada taxa de desemprego de equilíbrio, que no Brasil fica entre 7,5% e 8,5%. Ou seja, a tendência é de uma acomodação do indicador nos próximos meses.
Além dos juros, outro fator que pode fazer com que a taxa de desemprego volte a subir no ano que vem é o aumento da taxa de participação, que mede a parcela da população em idade de trabalhar que está empregada ou procurando trabalho. Duque, do FGV Ibre, explica que boa parte da queda do desemprego está relacionada não só com a geração de vagas, mas com a saída de pessoas da força de trabalho e que, póspandemia, ainda não retornaram a busca por oportunidades. Só entra para a estatística de desemprego do IBGE quem não estava trabalhando no período da consulta, mas procurou trabalho nos 30 dias anteriores.
— A queda do desemprego foi bastante beneficiada pelo aumento do valor do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600. Houve uma redução da força de trabalho no período. Para frente vai depender muito de como o atual ou o novo governo irá conduzir os programas sociais, mas devemos ver uma recuperação da força de trabalho, que deve pressionar a taxa de desemprego — afirmou Duque. (*Estagiária sob supervisão de Cássia Almeida).