Valor Econômico, n. 4959, 13/03/2020. Finanças, p. C2
Silêncio do Copom cria vácuo de comunicação
Alex Ribeiro
As regras de silêncio do Copom criaram um vácuo na comunicação do Banco Central (BC) em um momento em que o mercado demanda parâmetros da autoridade monetária. Ontem, o dólar subiu fortemente, e os juros negociados em mercado atingiram novos picos. Os dados embutem a possibilidade de altas da taxa de juros ao longo deste ano. Esses preços refletem, em boa medida, prêmios de risco num cenário muito incerto.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez um discurso pela manhã na abertura de um seminário sobre inovações financeiras e tecnológicas, mas se restringiu a esse tema, sem mencionar as políticas monetária e cambial. A própria agenda de Campos já indicava que, provavelmente, ele não iria tratar dos temas que interessam ao mercado, ao lembrar que o compromisso aderia às regras do silêncio do Copom.
Por essas regras, os membros do colegiado devem evitar falar sobre assuntos do Copom no período entre a quarta-feira que antecede sua reunião até a divulgação da ata do encontro. O colegiado se reúne na terça e quarta da semana que vem. Mas as regras são flexíveis o suficiente para quando for preciso falar. “Havendo excepcional necessidade de comunicação durante o silêncio do Copom, o presidente poderá realizar declarações públicas, na forma de entendimentos com os demais membros do colegiado, procurando dar máxima publicidade”, diz a memória das discussões do BC que criaram o “Silêncio do Copom”.
No passado, declarações do presidente do Banco Central foram capazes de tranquilizar o mercado. Em setembro de 2015, por exemplo, Alexandre Tombini apareceu de surpresa na divulgação de um Relatório de Inflação (na época, apenas o diretor de política economia participava) e disse literalmente que os prêmios de risco estavam exagerados e não seriam guia para as ações do Banco Central.
Tombini reafirmou a sua indicação de manter os juros inalterados por um período prolongado de tempo. Os juros futuros reagiram bem, desinflando o excesso de prêmio. Naquele momento, a situação política era muito mais delicada, com a aprovação de pautas-bomba pelo Congresso que foram um prenúncio do impeachment da presidente
Dilma Rousseff.
O recado de Tombini, naquele período, foi precedido pelo anúncio de operações de recompra de títulos da dívida pública, em uma estratégia combinada entre Tesouro Nacional e Banco Central. Parecido com o que aconteceu ontem, com a comunicação de um programa de recompra de papéis federais.