Título: O outro lado da febre aftosa
Autor: Neila Baldi
Fonte: Jornal do Brasil, 17/10/2005, Economia & Negócios, p. A19

Doença no Mato Grosso do Sul reverte ganhos para outros estados

SÃO PAULO - O embargo à carne bovina de Mato Grosso do Sul e São Paulo, responsáveis por quase 70% das exportações brasileiras do produto, deverá favorecer outros estados com frigoríficos exportadores. Na semana passada, Minas Gerais registrou aumento de 3,7% no preço da arroba do boi gordo, enquanto nos outros mercados o preço manteve-se estável. - Grandes produtores terão de absorver o que iria para as exportações - diz José Vicente Ferraz, do Instituto FNP.

Segundo levantamento da consultoria, Minas Gerais fechou a semana com a arroba do boi comercializada a R$ 55. O analista Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria, diz que, se São Paulo continuar impedido de vender para a União Européia, os estados de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais - com plantas habilitadas para a exportação e próximas ao Porto de Santos (SP) - vão suprir essa demanda.

- Mas juntos eles não têm condições de atender toda a necessidade - ressalva Luiz Carlos Meister, conselheiro da Federação da Agricultura de Mato Grosso.

Grandes frigoríficos exportadores, como o Friboi e o Bertin, já anunciaram o redirecionamento da produção para outros estados. Mesmo assim, a demanda ficará acima da oferta. Se a restrição comercial a São Paulo for retirada, por exemplo, o estado terá que comprar gado em pé de regiões como Bahia e Tocantins para suprir a procura.

- Não conseguiremos atender à demanda - diz Renato Costa, presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Tocantins.

Sérgio Avelar, economista da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), faz coro à avaliação de Costa.

- O que pode atenuar é os grupos exportadores aumentarem os abates em alguns estados - diz Avelar.

Segundo Antenor Nogueira, presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), todo o comércio de carne bovina com o exterior será afetado com o foco, mas alguns estados poderão ser beneficiados, pontualmente, com reajustes de preços devido à maior procura pelo boi gordo. Entre os candidatos a suprir a demanda das exportações brasileiras, Goiás e Mato Grosso têm investido pesado no combate à febre aftosa.

- Não podemos deixar brechas - diz Macel Caixeta, presidente da Federação da Agricultura de Goiás.

Em Mato Grosso do Sul, foram aplicados, neste ano, R$ 32 milhões em defesa sanitária - mais do que o total investido pelo governo federal em todo o país. Este ano, o estado não recebeu nenhum recurso do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Para conter a doença, o estado investe também no controle com a fronteira com a Bolívia, fornecendo vacinas e capacitando técnicos locais.

O Centro Panamericano de Febre Aftosa (Panaftosa) concluiu na sexta-feira o seqüenciamento do vírus que atacou o rebanho em Eldorado (MS). O vírus tipo O1 é considerado endêmico na região. Hoje, o centro deve divulgar o resultado das análises sobre a ocorrência ou não de vacinação dos animais infectados.