Título: Pais de Delúbio são acusados
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 18/10/2005, País, p. A2

O Ministério Público de Goiás informou ter encontrado prova de sonegação fiscal na compra de terras pelos pais do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares de Castro em Buriti Alegre (GO), terra natal do petista. Quatro áreas que somam 185,6 hectares (38 alqueires) foram registradas como tendo sido adquiridas, segundo o MPE, por R$ 147 mil, mas perícia judicial concluída no último dia 4 apontou que elas valem R$ 765,2 mil.

Apesar de as áreas pertencerem aos pais de Delúbio e não a ele, o MPE investiga se a compra das propriedades, feita de maio de 2004 a abril deste ano, envolve enriquecimento ilícito do ex-tesoureiro. As terras tiveram matrículas registradas em cartório em junho de 2005.

O produtor rural Antônio Soares de Castro, 75, nega que tenha recebido dinheiro de seu filho Delúbio Soares para comprar terras em Buriti Alegre (GO). Em depoimento no dia 22 de junho, Castro disse que obteve um empréstimo de R$ 100 mil de seu filho Carlos Rubens Soares e depois vendeu 300 garrotes a R$ 600 cada para obter dinheiro.

Em uma dessas áreas rurais no município de Buriti Alegre, Delúbio comemorou no sábado seu aniversário de 50 anos. A festa gerou outra investigação do MPE.

O promotor de Justiça que atua em Buriti Alegre, Reuder Motta, disse que abriu procedimento administrativo para apurar suposto favorecimento da prefeitura ao ex-tesoureiro petista.

O prefeito João Alfredo de Mello Neto é do PT. Ele foi eleito com apoio de Delúbio, então influente dirigente do partido.

Mello Neto disse que o caminhão pertence a uma prestadora de serviço contratada pela prefeitura, mas não soube dizer o nome da empresa.

- No fim de semana, eles ficam livres para serviços particulares - afirmou.

A investigação sobre o suposto enriquecimento ilícito de Delúbio, envolvendo compra de terras pelos seus pais, está com o promotor de Justiça em Goiânia Fernando Krebs.

O promotor conclui inquérito que apura recebimento de salário indevido por Delúbio na Secretaria de Estado de Educação de Goiás.

Embora more em São Paulo há 14 anos, o ex-tesoureiro ganhava R$ 1.020,28 da secretaria com base em declarações mensais de que prestava serviços ao Sintego (Sindicato dos Trabalhadores em Educação) 40 horas por semana. Essas autorizações vinham do próprio Sintego, entidade que Delúbio comandou na década de 80.

Dois ex-diretores do Sintego disseram nunca ter visto o tesoureiro na entidade nos últimos anos. No entanto, ele estava cedido pela secretaria de Educação para ''restar serviços, a título de colaborador, junto ao Sintego de 9 de fevereiro de 2001 a 8 de fevereiro de 2005''.

Mesmo após terminar o prazo na portaria, Delúbio continuou recebendo salário do governo estadual até maio deste ano. Ele devolveu em junho R$ 4.782,74 à secretária, após publicação do caso na imprensa.

Krebs afirmou que é preciso apurar se o dinheiro recebido indevidamente foi aplicado na compra de terras.

O promotor de Buriti Alegre disse que no fim do mês o MPE decidirá se denuncia à Justiça a suposta sonegação fiscal.