Título: Desafio maior: enfrentar preconceito
Autor: Soraia Costa
Fonte: Jornal do Brasil, 17/10/2005, Brasília, p. D6

Humberto Lemos é fotógrafo há 20 anos e há quatro ministra aulas gratuitas de fotografia no Espaço Cultural Renato Russo da 508 Sul. Esta foi a primeira vez que trabalhou com deficientes visuais. Ele confessa que teve medo pois acreditava que os alunos sofreriam preconceito, mas decidiu aceitar o desafio. - A sensibilidade deles é uma coisa que impressiona. Antes de fazer as aulas práticas em locais de grande circulação como o Parque da Cidade e o Jardim Botânico perguntei se eles não ficariam constrangidos se as pessoas rissem e eles responderam que não ligavam para as pessoas, que elas poderiam rir à vontade, pois eles não veriam mesmo - lembra o fotógrafo.

Segundo Humberto, o fato de apenas um dos alunos ter nascido cego o fez pensar que qualquer pessoa pode passar a ser deficiente visual. Apesar da dificuldade de viver no escuro, eles transmitem alegria e não demonstram revolta.

- Eles têm muitas dificuldades na vida, tanto econômicas quanto físicas, mas continuam alegres. Isso é uma coisa maravilhosa. Temos muito a aprender com eles - diz Lemos.

Para Fernando Rodrigues tudo é uma questão de concentração e compreensão. Ele é professor de Sorobã, uma espécie de ábaco japonês que permite fazer diversas operações matemáticas. Perdeu a visão por causa de uma bola de tênis atirada contra seu rosto quando tinha apenas seis anos. Há 14 anos Fernando mora sozinho e é independente para quase tudo.

- Ninguém é completamente independente. É importante que me digam quando minha camisa está suja, quando a roupa não está combinando. Vamos aprendendo com os erros - diz Fernando.