O Globo, n. 32564, 03/10/2022. Política, p. 10

Surfando a onda

Bernardo Mello


Em todo o país, aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) tiveram bom desempenho nas urnas e garantiram as vagas disputadas, em muitos casos surpreendendo e ultrapassando adversários que apareciam mais bem colocados nas pesquisas de intenção de votos. Entre eles estão vários ex-ministros.

Ricardo Salles (PL-SP) foi um dos que se beneficiaram do fato de contar com Bolsonaro como cabo eleitoral: o ex-ministro do Meio Ambiente foi um dos deputados federais mais votados em São Paulo. Durante o período em que participou do governo, Salles se tornou alvo da Polícia Federal por suspeita de favorecimento de madeireiros.

A ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos de Bolsonaro, Damares Alves (Republicanos), foi eleita com uma diferença de quase 300 mil votos sobre a ex-ministra Flávia Arruda (PL), que esteve à frente da Secretaria de Governo. Embora oficialmente o presidente apoiasse Flávia, também demonstrou simpatia pela candidatura de Damares, que contou com o apoio da primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Candidato ao Senado pelo Rio Grande do Norte, Rogério Marinho (PL), ex-ministro do Desenvolvimento Regional e secretário especial da Previdência no governo de Bolsonaro, também conquistou a vaga. O mesmo aconteceu com a ex-ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Tereza Cristina (PP), eleita senadora no Mato Grosso do Sul, numa disputa com Luiz Henrique Mandetta (União Brasil), ex-ministro da Saúde que rompeu com Bolsonaro por divergências na resposta à pandemia. No Rio de Janeiro, o general Eduardo Pazuello (PL), também ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, foi o segundo deputado federal mais votado.

No Rio Grande do Sul,Onyx Lorenzoni, ex-ministro da Casa Civil e da Cidadania, vai disputar o cargo de governador, no segundo turno, com o ex-governador Eduardo Leite (PSDB), que aparecia à frente nas pesquisas. No mesmo estado, o atual vice-presidente, Hamilton Mourão (Republicanos), foi eleito senador, ultrapassando o petista Olívio Dutra, que era o favorito, segundo as pesquisas.

Reviravoltas

Em São Paulo, enquanto o ex-ministro Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) surpreendeu, terminando à frente de Fernando Haddad (PT) na corrida ao governo, outro ex-ministro de Bolsonaro, Marcos Pontes (PL), venceu a corrida ao Senado. Pontes superou o candidato apoiado por Lula, Márcio França (PSB), que aparecia em primeiro nas pesquisas. O ex-secretário especial de Cultura Mário Frias (PL) foi outro nome do partido do presidente eleito deputado federal, por São Paulo.

Uma das principais reviravoltas ocorreu no Mato Grosso do Sul, onde o Capitão Contar (PRTB), que concorre a governador e aparecia com 17% dos votos válidos na véspera do primeiro turno, segundo pesquisa Ipec, apareceu na liderança ao fim da apuração, com 26,7%. Ele vai disputar o segundo turno com Eduardo Riedel (PSDB), que tinha aliança com o PL de Bolsonaro e, após aparecer com 18% na pesquisa Ipec da véspera, terminou a apuração com mais de 25% dos votos válidos. No último debate presidencial, na TV Globo, na quinta-feira, Bolsonaro pediu pela primeira vez voto para Contar.

No Espírito Santo, o crescimento de candidatos bolsonaristas mexeu com as disputas ao governo e ao Senado. O governador Renato Casagrande (PSB) aparecia com 59% dos votos válidos na véspera da eleição, mas terminou a apuração com 46,9%. Aliado de Bolsonaro, Carlos Manato (PL), que tinha 25% na última pesquisa, registrou 38% dos votos válidos nas urnas. Para o Senado, o bolsonarista Magno Malta (PL) desbancou a senadora Rose de Freitas (MDB), aliada de Casagrande.

No Distrito Federal e no Rio, os governadores Ibaneis Rocha (MDB) e Cláudio Castro (PL), que tinham o apoio de Bolsonaro, conseguiram se reeleger já no primeiro turno.

Em Santa Catarina, o bolsonarista Jorge Seif (PL) se elegeu ao Senado, ultrapassando Raimundo Colombo (PSD). Houve reviravoltas para o Senado em Rondônia e no Sergipe. No estado da região Norte, Jaime Bagatolli (PL) aparecia na quarta colocação na última pesquisa Ipec, divulgada na quinta-feira. Na eleição sergipana, Laércio Oliveira (PP), que declarou apoio a Bolsonaro em diferentes momentos da campanha, tinha 21% dos votos válidos na última pesquisa antes do primeiro turno, e se elegeu com 28,4%.

Deputados também foram beneficiados. Em Minas, Nikolas Ferreira (PL) foi o deputado federal mais votado, com mais de um milhão de votos à frente de André Janones (Avante), que desistiu de disputar a Presidência para apoiar Lula. Em Alagoas, Arthur Lira (PP), presidente da Câmara, conquistou o quarto mandato consecutivo de deputado federal.