Título: Mesquita confirma acordo
Autor: Hugo Marques e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 21/10/2005, País, p. A3

BRASÍLIA - Em entrevista concedida ontem ao Jornal do Brasil, o senador do P-Sol, Geraldo Mesquita Júnior (AC) lançou mão de um eufemismo para justificar o desconto ilegal nos salários dos servidores.

- Isso é o que eu chamo de solidariedade militante.

Embora não endosse os termos do diálogo entre o seu ex-funcionário e a chefe do escritório no município de Sena Madureira ( ''Se eles repetirem o que falaram lá na minha frente eu vou processá-los'') Geraldinho, como é conhecido, confirma existir um acordo, pelo qual o que exceder à verba para despesas nos escritórios políticos é ''custeado'' pelos funcionários.

- Entendo que essa é uma atividade política. Os servidores têm consciência disso. Nunca coloquei um centavo no bolso. Esse diálogo é um gesto tresloucado de pessoas que talvez tenham se confundido em sua missão. Entendo que os membros dos partidos devem participar da composição das nossas despesas - acrescentou.

Geraldinho atribui a ''contribuição militante'' ao fato de ele não possuir outras fontes de financiamento, ao contrário do que, segundo ele, ocorreria com outros políticos do estado que manteriam ''uma relação promíscua com empresários''. Sobre a denúncia ter chegado ao jornal, o senador creditou o fato a uma tentativa dos seus opositores, no Acre, de desmoralizar sua imagem.

O senador não admite a cobrança de R$ 5 mil - valor que o ex-servidor entende que lhe é devido.

- Tive contato apenas duas vezes com ele (o ex-servidor Paulo Santos Freire). Isso cheira a chantagem.

Com relação às afirmações de Dóris de que ele cobraria dela uma valor mensal, Geraldinho revelou-se surpreso.

- Dóris me surpreende. Me causa espécie o fato de ela ter estabelecido esse diálogo. Ou então ela não entende o contexto no qual está inserida.

Claramente desolado, o senador do PSOL empalideceu ao ler trechos da transcrição da conversa entre o ex-servidor e a atual funcionária.

- Conversa fiada - disse, baixinho, ao se inteirar de trechos da primeira gravação.

Após ler o conteúdo completo da conversa, veio o desabafo:

- Eita, tá brabo isso aqui.

Geraldinho ficou conhecido após o Jornal do Brasil denunciar em abril a existência de 9 parentes lotados em seu gabinete. Na ocasião, o senador pediu desculpas e demitiu 12 servidores, entre parentes e indicados, que engordavam sua renda em R$ 20 mil mensais.

O mensalinho, se estiver sendo cobrado de todos os servidores lotados no gabinete, rende ao senador quase R$ 29 mil mensais. Os senadores têm R$ 15 mil por mês de ''verba indenizatória'' para cobrir despesas dos escritórios nos Estados, acrescidos de R$ 72 mil, usados para pagar servidores. O parlamentar do P-Sol, contudo, considera a verba ''insuficiente''.

Formado em Direito, Mesquita, 57 anos, foi eleito em 2002 pelo PSB com 104.993 votos. Filiou-se ao P-Sol em março e tem sido um crítico ferrenho do governo Lula..

- O governo está carcomido pela corrupção e pela decadência moral e ética - disse em recente discurso.