Correio Braziliense, n. 21764, 18/10/2022. Política, p. 3

Atentado, não; hostilidade, sim

Henrique Lessa
João Gabriel Freitas


São Paulo e Brasília — O candidato do Republicanos ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas, negou, ontem, que tivesse sofrido um atentado enquanto visitava um projeto social na favela de Paraisópolis, na zona sul da capital paulista. Mas disse que o tiroteio que assustou a comitiva foi uma “intimidação” a ele e seus apoiadores.

A tese do atentado foi, inicialmente, divulgada pelo próprio Tarcísio, nas redes sociais. Mais tarde, ele reconheceu que não estavam tentando matá-lo, mas disse que foi alvo de hostilidade por parte dos chefes locais do crime.

“Esse tipo de troca de tiros não é comum na região. Minha opinião é que foi um ato de intimidação, um ato bem claro do crime organizado contra a nossa presença. Não tem nada a ver com política, mas, sim, uma questão territorial para demonstrar poder e que nós não somos bem-vindos”, afirmou.

Os disparos começaram quando ele e seu grupo visitavam o Polo Universitário da comunidade. O pânico tomou conta da comitiva, que se abrigou dentro do local até que as hostilidades cessassem.

De acordo com a PM, que acompanhava a visita, oito homens em quatro motos foram os autores dos disparos — um deles, de 27 anos, tinha duas anotações por roubo e morreu no confronto com os policiais. O governador Rodrigo Garcia, que apoia Tarcísio, ordenou a abertura de uma investigação, mas foi cauteloso sobre o episódio.

“Paraisópolis é uma comunidade de homens e mulheres de bem e não podemos confundi-los com bandidos. Por isso, pedimos uma investigação imediata às autoridades para esclarecer os fatos”, destacou o governador.

Para o secretário de Segurança do estado, João Camilo Pires, é possível ter havido um “ruído” entre os atiradores e a PM. “Não descartamos nada. Talvez um ruído com a presença policial no local, talvez uma intimidação às forças de segurança”, disse.

No último final de semana, circulou nas redes sociais a narrativa de que Tarcísio poderia sofrer um atentado. Um vídeo de Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, fala em um ataque e cita apenas o nome do hoje candidato ao governo paulista Fernando Haddad (PT), dando a entender que a potencial vítima seria Tarcísio. O corte, porém, é da campanha de 2018 e o general da reserva referia-se ao então presidenciável Jair Bolsonaro — à época, o petista disputava a corrida presidencial.

O próprio Haddad afirmou que “repudia qualquer tipo de violência” e pediu por paz nas disputas eleitorais. Já o deputado estadual eleito Eduardo Suplicy (PT) culpou a política armamentista do governo federal, pela escalada da violência politica.

O líder comunitário Gilson Rodrigues destacou a tradição de Paraisópolis em receber candidatos a cargos públicos. “A comunidade quer participar da política e fazer com que os representantes do poder público possam ajudar a transformar as vidas de todos os que aqui residem, com respeito às diferentes visões partidárias”, observou.

*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi