Título: Furacão-monstro rumo aos EUA
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Fonte: Jornal do Brasil, 20/10/2005, Internacional, p. A12

Mais forte tempestade já registrada no Atlântico chega hoje ao México, depois de matar 10 no Haiti

MIAMI - Wilma tornou-se ontem o mais perigoso furacão da história ao passar, de repente, de tempestade tropical a categoria 5 (a mais alta na escala Saffir-Simpson), causando espanto nos cientistas. O sistema atmosférico segue em direção a Cuba e à península Yucatán, no México, depois de causar inundações e deslizamentos de terra na Jamaica e no Haiti. Neste último, 10 pessoas morreram soterradas em avalanches de lama. A trajetória do furacão só será definida hoje. Mas espera-se que dê uma guinada após a passagem por Cuba e vá para a Flórida, onde deve chegar no fim de semana.

Depois da tragédia do Katrina, no final de agosto, e do pânico causado pelo Rita, em meados do mês passado, o presidente dos Estados Unidos, George Bush, recebeu ontem um relatório sobre o Wilma, o 21º furacão da temporada, que só termina daqui a seis semanas. Autoridades da Flórida ordenaram a retirada de turistas e dos 80 mil moradores da região dos Keys, a cadeia de ilhas no Sul do estado, conectadas à península apenas por uma estrada.

Mais cedo, um avião de reconhecimento da Força Aérea americana medira ventos de 280 km/h na tempestade. O dado mais preocupante, entretanto, foi a detecção de pressão mínima de 882 milibares dentro do sistema, o mais baixo já observado no Atlântico, segundo o Centro Nacional de Furacões, em Miami. Isso significa que, ontem, o Wilma era mais forte do que qualquer outra tormenta registrada, inclusive do que o Katrina e o Rita.

- Estejam preparados - alertou o chefe da polícia de Key West, Bill Mauldin.

Apesar de o prognóstico ser de enfraquecimento da velocidade dos ventos até que toque o solo americano, o Wilma deve ser encarado com seriedade, defende o xerife do condado de Monroe - que tem jurisdição sobre os Keys -, Rick Roth.

- Provavelmente será a pior tempestade da qual nos lembraremos. Pior ainda do que o Andrew - disse, referindo-se ao furacão que devastou a cidade de Homestead, ao Sul de Miami, em 1992. Mais de 20 pessoas morreram e o estado contou US$ 34 milhões em danos.

Os condados a Sudeste da Flórida, no entanto, ainda não tomaram ações imediatas para a retirada dos moradores. Mas planejam começar a fechar escolas e escritórios públicos a partir de amanhã.

Além de Yucatán, Cuba e Flórida, o alerta de furacão é vigente nas Ilhas Cayman, Belize e em Honduras - atingida este mês pelo ciclone Ivan, que matou mais de mil pessoas na América Central. De início, Wilma não ameaça Nova Orleans ou o estado americano do Mississippi, arrasados pelo Katrina, que deixou 1.200 mortos e mais de US$ 30 bilhões em prejuízo. Também não deve afetar as plataformas de extração de gás natural e petróleo no Golfo do México.

Mas a movimentada indústria do turismo mexicano já sente os efeitos da ventania. Foi dada a ordem para que os 33 mil turistas em Cancún tentem voltar ainda hoje para casa, ou se abriguem em locais seguros.

- Casas e barcos devem ser selados e bem ancorados - advertiu o chefe de Defesa Civil da área, Roberto Vargas. - Não há nada definido. Mas é certo que o furacão representa um alto risco para Yucatán.

Wilma provocou ainda o adiamento da cerimônia de premiação da MTV latina, programado para hoje, em Playa del Carmen.

Em Cuba, para onde o furacão trouxe dois dias de chuvas, inundações e deslizamentos de terra, mais de 5 mil pessoas foram evacuadas nas províncias de Guantánamo, Santiago, Granma e Pinar del Rio. Por ora, não há notícia de feridos.