Título: Carro velho, porta-malas milionário
Autor: Ricardo Albuquerque
Fonte: Jornal do Brasil, 20/10/2005, Rio, p. A14

Dodge Charger 1976, onde estaria o dinheiro roubado na sede da PF, foi vistoriado três dias depois do crime

O automóvel onde os investigadores da Polícia Federal supõem que esteja o restante do dinheiro roubado há um mês, da sede da instituição, foi levado ao posto de vistoria do Detran, na Barra da Tijuca, três dias depois do furto, para fazer a transferência de jurisdição. Dos R$ 2 milhões furtados, R$ 840 mil já foram recuperados. No dia 21 de setembro, o Dodge Charger branco, ano 1976, placa IBL-3717, do agente Marcos Paulo da Silva Rocha, recebeu a placa do Estado do Rio de Janeiro com as notas de euro, dólar e real dentro do porta-malas. - Ele pode ter retirado as notas do carro e levado para outro lugar ou entregado a alguém. As linhas de investigação apontam em várias direções, inclusive a possibilidade do dinheiro estar em outro estado - avaliou Alessandro Moretti, delegado responsável pelo inquérito sobre o roubo dos R$ 2 milhões.

No depoimento do escrivão Fábio Marôt Kair à Justiça Federal, ele revelou que Rocha escondera parte do dinheiro no porta-malas de um carro velho de sua propriedade. Rocha também é proprietário de outro veículo. Em 2001, segundo as investigações, o agente comprou o Audi A3 azul, placa LNN-7784, financiado pelo Banco Itaú. No mesmo ano, vendeu o Opala Comodoro, GTW-3375. Em 1998, um ano após ingressar na Polícia Federal, Rocha vendeu para uma empresa o Opala Diplomata vermelho, HOP-1707, mas o carro permanece em seu nome por falta de informações complementares na comunicação de venda.

- Em quatro anos como policial federal, ele comprou um Audi zero quilômetro, que não é um carro barato (cerca de R$ 40 mil) - observou um delegado que participou da Operação Caravelas, que deteve 11 pessoas - sete estão presas -, acusadas de tráfico de drogas.

Em 15 de setembro, foram apreendidos o dinheiro, 1.600 quilos de cocaína e dez carros importados.

Outro suspeito de formação de quadrilha, desvio de cocaína apreendida e peculato (crime cometido por funcionário público), o agente Ivan Ricardo Leal Maués possui três veículos. Os investigadores concluíram que um deles, a Towner LAV-5290, era alugada para fazer transporte de moradores de Jacarepaguá para outros bairros. Segundo o Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam), a Towner está com o Imposto de Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) atrasado desde 2001, ano em que foi feita a última vistoria anual obrigatória.

- Além do salário de agente, Maués faturava com o transporte irregular - revelou.

No pátio da Polícia Federal, na Praça Mauá, era comum Maués estacionar o Renaul Clio 2004, placa LTC-0313, ou a moto Honda MX-200, AJS-8280. Segundo o Registro Nacional de Condutores Habilitados (Renach), em Brasília, Maués tem 27 pontos negativos na carteira e cinco infrações cometidas, das quais quatro por excesso de velocidade e uma por transpor bloqueio viário sem permissão. No Renavam da moto constam débitos de multa e IPVA.

De acordo com o inquérito, Maués e mais três agentes - Rocha, Kair e Adilson Álbi Vieira - são acusados de participação no furto de 23 cheques do Clube Privê Cinco Estrelas, em Jacarepaguá, e de descontar três deles no valor total de R$ 17 mil. No clube, eram promovidas rinhas de galo com apostas superiores a R$ 50 mil. As rinhas foram descobertas em outubro de 2004. O caso ficou famoso pela detenção do publicitário Duda Mendonça e do vereador Jorge Babu (sem partido), que pagaram R$ 1 mil de fiança para serem liberados. Os quatro agentes indiciados tiveram a quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico autorizado pela Justiça Federal.