O Globo, n. 32566, 05/10/2022. Política, p. 8

Após adesão do PDT, Ciro declara apoio tímido a Lula

Camila Zarur
Bianca Gomes
Sérgio Roxo
Fernanda Trisotto
Alexandre Rodrigues


Após o PDT anunciar apoio ao ex-presidente Lula no segundo turno da eleição presidencial, o candidato derrotado do partido ao Palácio do Planalto, Ciro Gomes, afirmou que acompanha a decisão. No pronunciamento, porém, ele não citou em nenhum momento o nome do petista nem sua sigla. A candidata do MDB, Simone Tebet, que terminou em terceiro lugar, também sinalizou a aliados que irá declarar apoio a Lula. A senadora conversou com o ex-presidente em ligação intermediada pela mulher de Lula, Rosângela da Silva, conhecida como Janja. A Executiva Nacional do MDB, por sua vez, deve adotar uma posição de neutralidade

Em um vídeo de 2 minutos e 10 segundos, divulgado nas redes sociais, Ciro lamentou a disputa entre Lula, a quem desferiu duros ataques ao longo da campanha, e o presidente Jair Bolsonaro.

— Acompanho a decisão do meu partido, o PDT. Frente às circunstâncias, é a última saída — disse Ciro.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, que tem um encontro marcado com Lula hoje, afirmou que o “trabalho para derrotar Bolsonaro tem que ser a prioridade absoluta”.

— Ciro não viajará, ficará aqui no Brasil — disse Lupi, fazendo menção à ida do ex-presidenciável para Paris no segundo turno de 2018 entre Bolsonaro e Fernando Haddad (PT).

Quanto a Tebet, a expectativa entre os coordenadores da campanha de Lula é que o encontro dela com o ex-presidente ocorra hoje. A conversa telefônica entre os dois foi confirmada pelo petista ontem, em coletiva de imprensa em São Paulo:

— Já (conversei com ela). Antes de conversar pessoalmente com as pessoas, temos tentado conversar com os partidos, para que não haja um rompimento na relação diplomática entre os partidos políticos — disse Lula.

Pessoas próximas a Tebet disseram que a senadora também recebeu uma ligação do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice de Lula, mas a equipe dele nega.

Interlocutores da senadora dizem que ela resiste a um engajamento na campanha do petista e deve fazer um apoio crítico, sem participar de agendas ao lado do candidato do PT. Uma pessoa próxima a ela afirmou que Tebet não será “enfática” no apoio.

A campanha de Lula considera o apoio de Tebet fundamental para vencer Bolsonaro no segundo turno. Isso porque, além de ter terminado a corrida eleitoral em terceiro lugar, ela ficou marcada como uma voz de oposição ao atual presidente da República.

No MDB, como há duas correntes bem distintas dentro da sigla — Norte e Nordeste apoiando Lula e Sul e Centro-Oeste com Bolsonaro — a tendência é que o partido libere o posicionamento dos seus filiados.

Ontem, partidos que se coligaram com o MDB na corrida presidencial se posicionaram para o segundo turno. O Cidadania, de Roberto Freire, declarou apoio a Lula, justificada pelos “riscos de escalada autoritária” caso o Bolsonaro seja reeleito. Mas a bancada do partido no Congresso afirmou que ficará neutra.

Serra apoia Lula

O Cidadania forma uma federação com o PSDB, que liberou seus diretórios estaduais para apoiarem quem preferirem. Entre os tucanos que se alinharam com Lula está o senador José Serra (SP). Na eleição para o governo de São Paulo, porém, ele declarou voto no candidato bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) contra Fernando Haddad (PT). “Não vou me alongar sobre o tema. Diante das alternativas postas, votarei em Lula. E, pela mesma razão, em São Paulo, meu voto será em Tarcísio de Freitas”, disse Serra por meio de nota.

Já a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), vice da chapa de Tebet, afirmou que votará em branco no segundo turno.

Na reunião da Executiva Nacional do PSDB, ontem, quatro ex-presidentes da legenda defenderam o apoio a Lula no segundo turno: Tasso Jereissati, José Aníbal, Pimenta da Veiga e Teotônio Vilela Filho.

Ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Arminio Fraga declarou voto em Lula. Ele já havia se engajado na campanha de Marcelo Freixo (PSB), derrotado na disputa pelo governo do Rio.

“Eu já tinha declarado que não votaria no atual presidente, optando por Lula em caso de disputa apertada. Vejo ameaça (à liderança dele neste segundo turno) e, com os resultados de domingo, maiores riscos com a concentração de poder nas mãos do atual presidente”, disse Armino, em entrevista ao GLOBO por e-mail.

Crítico da política econômica adotada nas gestões petistas, particularmente na de Dilma Rousseff, e na de Jair Bolsonaro, Arminio avalia que, diante das duas opções oferecidas aos brasileiros agora, é melhor eleger Lula para proteger a democracia e afastar a possibilidade de um segundo governo do atual presidente, com danos não só à economia, mas a áreas estratégicas vitais para o país como o meio ambiente.

O secretário de Fazenda de São Paulo, Felipe Salto, escolhido pelo governador Rodrigo Garcia (PSDB) para substituir Henrique Meirelles, foi outro que declarou voto em Lula. Há dois dias, ele fez uma lista com suas preferências políticas e indicou voto no petista. Agora, o seu chefe declarou apoio “incondicional” a Bolsonaro.

Na mensagem, em seu Twitter, Salto se refere ao candidato de Bolsonaro ao governo paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como “preposto (que) chega montado na garupa do demônio-mor”. “A eleição de hoje (domingo) é particularmente importante para os paulistas, pois corremos o risco de trazer para cá o horror bolsonarista. O preposto chega montado na garupa do demônio-mor, o desumano e sádico que tira sarro de pessoas morrendo de falta de ar. Não passarão!”, escreveu o secretário de Garcia.