Título: Lucro no combate à impotência
Autor: Iolanda Nascimento
Fonte: Jornal do Brasil, 18/10/2005, Economia & Negócios, p. A18

O mercado de medicamentos para o tratamento da impotência sexual desacelerou seu ritmo de crescimento neste ano ante as taxas anteriores, de dois dígitos, e os laboratórios se movimentam para recuperar o antigo fôlego. Entre janeiro e agosto, os brasileiros consumiram 10,9 milhões de comprimidos, um aumento de 4,3% em relação aos 10,4 milhões do mesmo período de 2004. No ano passado, o número de comprimidos comercializados foi de 15,9 milhões, 17,4% a mais em comparação com os 13,6 milhões de 2003, por sua vez 19 % superiores ao volume do ano anterior, conforme pesquisa do IMS Health, empresa que audita as vendas dos setor no varejo.

- Não deve crescer muito mais do que isso, estamos trabalhando com estimativa de 6% de aumento para o mercado em 2005 - estima o diretor de vendas e marketing da Eli Lilly no Brasil (fabricante do Cialis), Antonio Alas.

Dos 10,9 milhões de comprimidos até agosto, o estudo mostra que o pioneiro Viagra, da Pfizer, deteve 51,8%, o Cialis ficou com 34,6%; e o Levitra, da Bayer, 13,6%. Nesse levantamento, não estava incluído o Vivanza, resultado da parceria entre Medley e Bayer, o quarto medicamento que compõe este mercado no país, lançado este mês.

Os executivos das principais indústrias farmacêuticas que atuam no segmento observam que as altas taxas de crescimento nos últimos anos eram provenientes de um mercado novo, iniciado no fim dos anos 1990, e também da entrada, a partir de 2003, de dois novos concorrentes (Cialis e Levitra), que reforçaram e ampliaram a divulgação da terapia, expandindo o número de pacientes com disfunção erétil em tratamento.

Mas os executivos acreditam que a desaceleração não é um fenômeno somente no país e acontece nos principais mercados já maduros. Entretanto, avaliam que essa estabilização não reflete o verdadeiro potencial nacional e deve-se principalmente à proibição no Brasil da propaganda direta ao consumidor.

- Ainda tem muito chão, apesar da diminuição na velocidade de crescimento - avalia o gerente de marketing da linha farma da Bayer HeathCare no país, Marcos Nour.

O diretor de marketing da subsidiária brasileira da Pfizer, Mariano Garcia-Valiño, traduz a afirmação de Nour em números. Ele ressaltou que as pesquisas médicas mostram que são mais de 10 milhões os brasileiros com algum grau de disfunção erétil e menos de 1 milhão os que fazem tratamento médico.

- As campanhas são importantes para derrubar os tabus que ainda cercam o problema. Elas ajudam o paciente a buscar tratamento médico - completa o diretor comercial da Pfizer no Brasil, Claudio Coracini.

Com dois medicamentos (Viagra e Cialis) entre os três produtos com maior faturamen-to do mercado farmacêutico no país, os executivos não atribuem a estabilização dos números ao preço - em valores promocionais, a caixa com um comprimido custa cerca de R$ 20, a embalagem com dois está em torno de R$ 40 e a com quatro, em R$ 80. Para Garcia-Valiño, da Pfizer, do universo de brasileiros que sofrem com impotência cerca de 3 milhões têm poder de compra.

Mas a Pfizer entende que po-de ampliar o acesso se facilitar o desembolso inicial de um paciente que está começando a terapia. Por isso, a exemplo do que fizeram a Bayer e a Eli Lilly desde a entrada nesse mercado, a empresa lançou no fim do mês passado o Viagra de 50 miligramas em embalagens com apenas dois comprimidos, além de manter as vendas de caixas com quatro pílulas. A Pfizer brasileira é a única subsidiária do grupo a dispor dessa opção.

A resposta foi imediata, con-tou Coracini. Em apenas uma hora, o laboratório negociou com os distribuidores 1 milhão de comprimidos, volume correspondente a um mês de vendas. Garcia-Valiño disse que a companhia estuda agora lançar Viagra 100 miligramas em caixas com dois comprimidos.