O Globo, n. 32566, 05/10/2022. Política, p. 4

Reforços na largada

Camila Zarur
Daniel Gullino
Gustavo Schmitt
Victória Cócolo


O presidente Jair Bolsonaro (PL) iniciou a disputa pelo segundo turno ampliando a rede de apoios no Sudeste, região que concentra 42% do eleitorado no país. O candidato à reeleição, que terminou a primeira etapa atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), atraiu ontem para seu palanque os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que conquistou mais um mandato, e de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), terceiro colocado na corrida. Além disso, no Rio, o reeleito Cláudio Castro (PL) assegurou que vai se engajar no projeto presidencial, após uma campanha em que manteve distância de Bolsonaro.

Entre todas as adesões, a de Zema é a que gerou mais entusiasmo no Palácio do Planalto. O governador renovou o mandato com uma vitória expressiva no primeiro turno, com 56% dos votos (seis milhões), e reúne em seu arco de alianças centenas de prefeitos —grupo que a campanha de Bolsonaro espera ver trabalhando para virar votos no estado, onde Lula ficou à frente. O presidente, por sua vez, teve 5,2 milhões de votos em Minas, ou seja, há espaço para crescer junto a eleitores do governador mineiro.

Votos em potencial

Levando-se em consideração os desempenhos somados de Zema, Garcia, Castro e Tarcísio de Freitas (Republicanos) — candidato bolsonarista que foi ao segundo turno em São Paulo —, Bolsonaro teve 2,9 milhões de votos a menos no conjunto dos três estados, indicativo de que há votos em potencial a serem conquistados nas próximas semanas.

— Sabemos que em muitas coisas convergimos, e em outras, não. Mas é o momento em que o Brasil precisa caminhar para frente. E eu acredito muito mais na proposta do presidente Bolsonaro do que na do adversário (Lula) — disse Zema, em Brasília, ao lado do aliado.

De acordo com a colunista Malu Gaspar, do GLOBO, um dos benefícios ao governador é o compromisso do presidente em avançar com o regime de recuperação fiscal de Minas Gerais, que para Zema é considerado fundamental para as finanças.

Bolsonaro retribuiu o gesto afirmando que o apoio é “decisivo” — tradicionalmente, o candidato que vence a disputa em Minas Gerais sagra-se vitorioso no país, já que o estado é aquele em que o perfil do eleitorado mais se assemelha à média nacional. No primeiro turno, justamente pelo peso de Lula no estado, Zema evitou nacionalizar a disputa e evitou se vincular a Bolsonaro, a quem já criticou, inclusive, durante a pandemia, pelo incentivo a aglomerações.

Em outra movimentação, Garcia, que chegou a ser procurado por emissários petistas, se antecipou até mesmo ao PSDB e declarou apoio “incondicional” a Bolsonaro e a Tarcísio, seu rival no primeiro turno em São Paulo. O posicionamento gerou irritação em uma parcela dos tucanos e tornou ainda mais explícita a divisão no partido, que oficialmente liberou os diretórios estaduais para decidirem os apoios por conta própria — mais tarde, representantes da ala histórica da legenda, como o senador José Serra, afirmaram que vão votar em Lula. O ex-governador João Doria, por sua vez, declarou que vai anular o voto.

— Durante o primeiro turno, eu disse que São Paulo é um estado desenvolvido, que dá oportunidades a todos, que ajuda quem precisa, porque o PT nunca governou nosso estado. O que eu não quero para São Paulo, eu não quero para o Brasil — afirmou Garcia, que recebeu Bolsonaro em São Paulo.

No Rio, que conferiu vantagem ao presidente sobre Lula no primeiro turno, Castro, agora sem a preocupação de perder eleitores por estar próximo a Bolsonaro, prometeu empenho na campanha:

— Eu, como sou do partido do presidente, apoiador do presidente, não tinha como não vir aqui. Não preciso lhe franquear meu apoio, porque o senhor já tem. O Rio vai ser a capital da vitória.

Bolsonaro, ao comentar as alianças, resumiu o tom que usará contra Lula no segundo turno.

— Agradeço aos governadores por decidirem se unir a nós contra a corrupção, o abandono e o desrespeito aos valores das famílias brasileiras que representa o PT. Diferenças sempre existirão, mas o que está em jogo neste momento é algo muito maior: o futuro do nosso Brasil — escreveu nas redes sociais.