Título: Governo decreta estado de calamidade
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 21/10/2005, País, p. A8
Uso de água contaminada adoece população do Amazonas
MANAUS - Contrariando preceitos geográficos que apontam a Região Norte como a zona de maior índice de chuvas do país, 61 municípios do Amazonas sofrem com seca sem precedentes que levou o governo federal a reconhecer oficialmente estado de calamidade pública. A medida facilitará a liberação dos R$ 30 milhões em recursos que o Ministério da Integração Nacional prevê para casos de emergência. Na quarta-feira, o ministro Ciro Gomes, visitou a região e prometeu a liberação de 100 mil cestas básicas para amenizar o sofrimento da população.
O governo afirma que com o reconhecimento do estado de calamidade pública será mais fácil aplicar recursos para operações de socorro, porque a urgência dispensa, por exemplo, a necessidade de licitação para a aquisição de medicamentos. A saúde da população é uma das principais preocupações no momento. O município de Praia de Fátima, que fica próximo à cidade de Tabatinga, sofre com a seca, mas tem dificuldade em receber assistência do governo.
As 22 famílias do município não passam fome, porém enfrentam outras dificuldades. Segundo agentes de saúde da região, a seca aumentou o número de casos de diarréia na comunidade.
- A gente trata os casos só com soro caseiro, porque estamos sem medicamentos. Só tenho esparadrapo - reclamou o agente de saúde, Luís Renato Carvalho.
Os agentes tem sido a principal frente de combate às doenças ocasionadas pela água contaminada. Eles orientam a população a usar o hipoclorito de sódio para tratar a água antes do consumo. Mas entre a população ribeirinha, apenas o uso do hipoclorito tem se mostrado insuficiente, porque as os moradores banham-se nos rios.
A agricultora Ermozinda Assis de Souza, levou a filha de 13 anos às pressas para receber atendimento médico, na cidade vizinha, Tabatinga. Depois de tomar banho em água contaminada, a pele da menina ficou vermelha e inchada.
- O doutor passou um remédio e falou que não é mais para ela tomar banho nesse igarapé daqui de trás de casa. Mas a água da chuva só dá para a gente beber - disse a mãe, mostrando a água de coloração verde que a família está usando para a higiene pessoal.
Além dos problemas de saúde, a seca também atinge o transporte. Os leitos dos rios foram transformados em estradas, como é o caso do município de Dominguinhos, no povoado de Caapiranga (foto). Como o principal meio de transporte no Amazonas é fluvial, além de sofrer com a contaminação da água, as famílias ficam isoladas, o que dificulta a entrega de medicamentos e cestas básicas. A maior parte do material enviado pelo plano de socorro só chega às vítimas da seca transportado por aviões da Força Aérea.
Diante de um cenário de tragédia, uma boa notícia veio ontem com o anúncio da elevação do nível do Rio Solimões, na fronteira com o Peru e a Colômbia. O degelo da cordilheira dos Andes está aumentando o nível do rio em 5 centímetros por dia.
Com agências