Título: Alívio esperado na taxa de juros
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Fonte: Jornal do Brasil, 20/10/2005, Economia & NEGÓCIOS, p. A19

Selic cai para 19% com corte de 0,5 ponto percentual. Taxa real, porém, supera em 11 vezes média mundial

O Banco Central acelerou o processo de redução do aperto monetário iniciado no mês passado e, confirmando as expectativas da maioria dos analistas, cortou em 0,5 ponto a taxa básica de juros, baixando-a para 19% ao ano. Mês passado, a queda foi de 0,25 ponto percentual. A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), unânime, trouxe a taxa real de juros - descontada a inflação - de 14,1% para 13,6%, ainda a maior entre todos os países do mundo - 11 vezes superior à média mundial, de 1,2%, e três vezes a média dos emergentes, de 4%.

A decisão ocorre mesmo depois de a inflação de setembro, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE, ter dobrado ante o mês anterior - 0,35% contra 0,17% em agosto. A redução foi possível porque as trajetórias da inflação para este ano e para 2006 continuam próximas da meta. Na última pesquisa feita pelo BC com analistas, a previsão era de que o IPCA registrasse 5,22% neste ano. Para 12 meses, a taxa projetada é de 4,69% ao ano. Para o ano que vem, eles esperam uma inflação de 4,6% - um décimo acima do centro da meta.

- Não dava para esperar um corte maior do que o anunciado. O BC trabalha com movimentos lentos. Havia até gente falando em redução de apenas 0,25 ponto, devido ao perfil conservador do Copom - afirma Maristella Ansanelli, economista-chefe do Banco Fibra.

Roberto Luis Troster, economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (febraban), reforça que o corte nos juros foi ''correto, dada a forma como vem sendo conduzido o regime de metas de inflação''. Para ele, ''o cenário externo está tranqüilo, apesar da maior volatilidade, e as expectativas de inflação estão convergindo para as metas''.

Para o conselheiro do Sindicato das Financeiras do Estado do Rio de Janeiro (Secif-RJ), Istvan Kasznar, o ciclo de quedas precisava ser aprofundado, diante da inflação baixa e do dólar desvalorizado.

- É preciso que o Copom diga na ata que os juros continuarão caindo no mesmo ritmo. É um indicativo importante.

O economista-chefe da RC Consultores, Marcel Pereira, ressaltou que, com preços no atacado em queda e indústria estagnada, não há riscos para a inflação. E que o corte ''ainda é pouco para reparar o conservadorismo dos últimos tempos, porém deixa o mercado um pouco mais otimista''.

Aproveitando a decisão do BC, o Bradesco anunciou cortes de 0,02 a 0,04 ponto percentual ao mês nas taxas das principais linhas de crédito. O juro máximo do cheque especial, por exemplo, caiu de 8,31% para 8,27% ao mês. No crédito pessoal, a taxa recuou de 5,85% para 5,81% ao mês.