Título: Distrital denuncia grampo em gabinete
Autor: Eveline de Assis
Fonte: Jornal do Brasil, 20/10/2005, Brasília, p. D1

Gravação mostraria que José Edmar dialogou com grupo invasor, embora o orientasse a desistir de ocupação de terras

O deputado distrital José Edmar (Prona), recentemente envolvido no escândalo de invasão de terras no Distrito Federal, por estar incitando a população a invadir terrenos em Planaltina, denunciou ontem, na Câmara Legislativa, o que considera arapongagem em seu gabinete. Após ser intimado a depor na Polícia Civil, o deputado solicitou uma cópia dos autos. Foi nesse momento que, segundo ele, deparou-se com um documento reservado da Polícia Civil do DF, da Divisão de Inteligência Policial (Dipo), que demonstra que estaria sendo grampeado já que há uma transcrição de uma conversa que teve em seu gabinete com Severino Rogério Rodrigues do Nascimento, um dos principais articuladores do condomínio Arapoanga, em Planaltina/DF.

O documento, que faz parte do processo, relata que, de acordo com informes repassados por outros órgãos de inteligência do DF, no dia 20 de setembro teria havido uma reunião na Câmara Legislativa, entre o deputado e Severino Nascimento. Na oportunidade, o deputado teria pedido que não ocupassem o terreno em Planaltina/DF e que mantivessem a realização da passeata prevista para o dia 25/9, a partir das 15h, saindo da Quadra 11, conjunto F, casa 6-A, do Condomínio Arapoanga, endereço de Severino e sede provisória do Prona, com destino ao Jardim Roriz, onde seria realizado um ato público.

- Não foi possível saber se a orientação para a não ocupação de terrenos também foi repassada aos demais líderes de outras cidades - relata o documento.

Surpresa e repúdio foram manifestados por todos os parlamentares que se encontravam no plenário. Chico Vigilante disse que não se pode admitir a arapongagem de movimentos sociais. O deputado Paulo Tadeu disse que o presidente da Casa deveria exigir do chefe do poder Executivo que esclarecesse se está havendo qualquer forma de grampo ou vigilância dos parlamentares.

Ficou decidido que hoje o primeiro item da pauta de votações será um requerimento solicitando a presença do diretor geral da Polícia Civil, Laerte Bessa, que ontem mesmo retrucou:

- José Edmar tem que lavar a boca antes de falar da Polícia Civil. O que ele quer é desviar a atenção da ameaça que fez ao Vigão.

O diretor geral da Polícia Civil disse que vai analisar a solicitação de prestar esclarecimentos na Câmara, caso seja solicitado. Ele contou, ainda, que quando há autorização judicial, a Polícia Civil não se utiliza de grampo ambiental, somente telefônico.

Laerte Bessa também falou que, caso o deputado tenha apresentado um documento falso, o deputado poderá ser indiciado por falsidade de documentação e que a Polícia Civil vai investigar essa denúncia de arapongagem.