Valor Econômico, v. 20, n. 4961, 17/03/2020. Brasil, p. A2

Mandetta resiste a fechamento das fronteiras

Rafael Bitencourt
Isadora Peron
Marcelo Ribeiro 


Apesar do ritmo de confirmação de casos do coronavírus no Brasil ter surpreendido o governo nos últimos dias, algumas restrições mais duras, como o fechamento da fronteira, não foram ainda adotadas como em outros países da América do Sul. “Não vejo hoje necessidade de fechar o Brasil para o mundo. Estamos olhando o mundo ocidental com muita atenção. Hoje eu não tenho por que tomar essas medidas”, afirmou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

O ministro discutiu a situação do surto de coronavírus no país com os chefes de outros Poderes. Ele esteve com os presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Ontem, os casos confirmados da doença subiram de 200 para 234, e as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro continuam a ser as únicas com registro de transmissão sustentada - quando não é possível identificar a trajetória de infecção do vírus.

Após o balanço da propagação da doença no país, o secretário de

Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, afirmou que o número de casos confirmados no Brasil avança numa velocidade “muito mais rápida do que imaginávamos”. Ele esperava chegar à confirmação de 200 casos, alcançados no domingo, só daqui a duas semanas.

Oliveira comentou que a surpresa com o avanço repentino da doença pode levar o governo a adotar novas medidas, além das recomendações não farmacológicas - sem o uso de medicamento, como lavar as mãos com mais frequência e evitar aglomerações - feita às secretarias estaduais na última sexta-feira. Ele citou que talvez seja necessária uma ação para garantir o “manejo seguro de cadáveres”, se aumentar o número de mortes.

Mandetta voltou a questionar a eficácia de recomendações feitas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Ontem, a entidade propôs que sejam feitos testes em todo suspeito de coronavírus, diante do que classificou de “maior crise sanitária mundial da nossa época".

“Não há um modelo pronto. Vai ser difícil? Vai. Nós não temos epidemia, mas poderemos ter. Nós estamos discutindo se poderemos fazer a testagem ampla. Talvez isso não seja o mais inteligente”, disse.

Questionado sobre o risco de zerar o estoque de testes, o secretário- executivo da pasta, João Gabbardo dos Reis, informou que o governo avalia fazer a importação de “testes rápidos” para covid-19.

O teste rápido não exige uma análise laboratorial. O paciente fica sabendo do resultado imediatamente. Até agora, o Ministério da Saúde contratou 30 mil testes tradicionais para coronavírus, mas algumas unidades de saúde já informaram que acabou o estoque.

O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde informou que o exame simplificado é semelhante ao teste de gravidez, adquirido na farmácia. Em paralelo, o governo avalia contratar mais 150 mil testes tradicionais para suprir a carência imediata do Sistema Único de Saúde (SUS).

A preocupação com a explosão de casos graves da doença tem levado o governo a buscar novas estratégias para reforçar o atendimento pelos Estados. Gabbardo disse que poderá ser contratado, “se necessário”, mais 2 mil leitos de unidade de tratamento intensivo (UTI). Já foi realizada a licitação dessa mesma quantidade que começará a ser liberada, sendo que 200 leitos a partir de hoje e outros 340 até a próxima semana. Ontem, o Ministério da Saúde liberou R$ 424,1 milhões para Estados.