O Globo, n. 32567, 06/10/2022. Política, p. 7

Lula abre 2º turno a frente; 8% admitem mudar voto

Marlen Couto
Bernardo Mello
Flávio Tabak


A primeira pesquisa do Ipec para o segundo turno da eleição presidencial mostra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com vantagem sobre o candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL). No levantamento contratado pela TV Globo e divulgado ontem, o petista tem 51% dos votos totais, contra 43% do candidato do PL. Outros 4% dos entrevistados declararam a intenção de votar em branco ou nulo e 2% não souberam responder.

Nos votos válidos, sem considerar os que pretendem votar em branco e nulo, além dos indecisos, cálculo mais próximo do feito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para divulgar o resultado da eleição, a sondagem apontou que Lula tem 55%, e Bolsonaro ,45%. Os dados da nova pesquisa indicam ainda que, quando os nomes dos dois candidatos não são apresentados, 4% dos eleitores não sabem dizer em quem votarão no próximo dia 30. Na pesquisa espontânea, 50% declaram voto em Lula e 40%, em Bolsonaro. Outros 6% indicam voto em branco e nulo.

Ainda segundo o instituto, há altos índices de cristalização dos votos: 92% dos eleitores brasileiros dizem estar totalmente decididos sobre em quem irão votar para presidente no segundo turno. Os que dizem que ainda podem mudar de opinião somam apenas 8%.

Desde a divulgação dos resultados das urnas no domingo, Lula e Bolsonaro já começaram a costurar alianças para fortalecer suas candidaturas para esta segunda etapa da campanha. Os dados, portanto, já podem ter indicado alguns desses movimentos, mas ainda não foram capazes de captar os efeitos dos apoios selados ontem pelos dois candidatos. Nome mais votado no pleito, com 48,43%, o ex-presidente ganhou a adesão da senadora Simone Tebet (MDB). Já o candidato à reeleição recebeu declaração de apoio do governadores reeleitos como Ibaneis Rocha (DF), Ronaldo Caiado (GO) e Ratinho Jr. (PR).

Antes, o petista já tinha ouvido Ciro Gomes dizer que seguiria o PDT no apoio à sua candidatura ao Planalto. E o presidente conquistara o governador reeleito de Minas, Romeu Zema (Novo). Cláudio Castro (PL), que também se reelegeu governador no Rio disse que entraria de cabeça na campanha de Bolsonaro. O atual governador de São Paulo e que foi o terceiro colocado na disputa paulista, Rodrigo Garcia (PSDB), manifestou endosso ao nome do presidente.

A nova pesquisa traz uma boa notícia para Bolsonaro: a diferença entre reprovação e aprovação ao atual governo caiu para sete pontos, e está no menor patamar desde o início da campanha. Entre os eleitores, 42% avaliam o governo como ruim ou péssimo e 35% o consideram ótimo ou bom. Os que avaliam a gestão de Bolsonaro como regular são 22%.

No início da semana passada, o percentual dos que reprovavam o governo era de 47%, segundo o Ipec, enquanto a aprovação era de 29%. A distância detectada naquele levantamento, de 18 pontos, mais do que o dobro do apontado no levantamento de ontem, havia sido a maior diferença entre aprovação e rejeição ao governo desde o início da série de pesquisas do Ipec, no dia 15 de agosto.

Empate no sudeste

Na véspera do primeiro turno, o instituto já havia detectado uma redução da diferença entre avaliações positivas e negativas do governo Bolsonaro. Pesquisa divulgada no sábado apontou que 44% dos entrevistados reprovavam a gestão, enquanto 33% a aprovavam.

O Ipec aponta também, no entanto, que 50% do eleitorado brasileiro não votaria no atual presidente. O ex-presidente Lula tem 40% de rejeição. O levantamento anterior do instituto, de sábado (1°), mostrava que 46% diziam não votar de jeito nenhum no atual presidente, enquanto 38% afirmavam não votar no petista de jeito nenhum.

Os dois candidatos começam o segundo turno em situação de empate técnico nas intenções de votona região Sudeste. Lula aparece com 47% das intenções de voto entre eleitores sudestinos, contra 45% para Bolsonaro. Brancos e nulos somam 5%, enquanto 3% não souberam responder.

Na apuração do primeiro turno, cujo resultado é informado em votos válidos — cálculo que, diferentemente das intenções de voto, exclui brancos, nulos e abstenções —, Bolsonaro registrou 47,6% na região, à frente de Lula, com 42,6%.

Na região Nordeste, Lula mantém vantagem para Bolsonaro. O petista aparece com 69% das intenções devoto, enquanto o presidente tem 26%. Bolsonaro, por sua vez, aparece à frente nas regiões Sule Norte/Centro-Oeste, agrupadas numa só categoria. No Sul, o atual presidente tem 54% das intenções de voto, enquanto Lula aparece com 37%. No Centro-Oeste e Norte do país, o atual presidente aparece com 53%, e o petista tem 43%.

Faixa de renda

Os recortes da pesquisa mostram que Lula tem ampla vantagem entre os eleitores com menor renda. Na faixa com renda até um salário mínimo, o petista tem 64%, contra 29% de Bolsonaro. Na faixa que inclui o eleitor com renda familiar superior a um e de até dois salários mínimos, o placar fica mais apertado: Lula soma 55% dos votos, contra 41% do atual presidente.

Nas faixas mais ricas, o cenário se inverte. Bolsonaro tem ampla vantagem considerando quem ganha mais de cinco salários mínimos: o candidato do PL marca 65% dos votos contra 30% de Lula. Na faixa entre mais de dois e até cinco salários, Bolsonaro tem 49%, ante 44% de Lula.

A pesquisa Ipec segue mostrando diferenças no voto de homens e mulheres. No eleitorado feminino, o placar é 53% a 40%, com Lula à frente. Entre os homens, o petista tem 49%, e Bolsonaro marca 45%. O mesmo ocorre entre católicos e evangélicos, segundo o Ipec. No primeiro grupo, Lula tem 59%, contra 36% de Bolsonaro. No segundo, o atual presidente soma 61%, contra 31% do petista.

Os institutos de pesquisas foram alvos de contestações depois de divergirem dos resultados indicados pelas urnas no primeiro turno, especialmente em relação à votação de Bolsonaro. O ministro da Justiça, Anderson Torres, determinou que a Polícia Federal abra investigação para apurar a conduta dos institutos. A medida foi repudiada pela associação que representa a maioria das empresas do setor.