O Globo, n. 32569, 08/10/2022. Política, p. 8

Bolsonaro não é perfeito, mas o PT é o atraso

Entrevista: Romeu Zema



Qual será o papel do senhor na campanha de Bolsonaro?

Seria muito errado da minha parte ficar omisso agora. Não concordo 100% com a pauta do presidente Bolsonaro, talvez concorde com 70%. Mas discordo de 80% da pauta do candidato do PT e concordo com 20%. Eu participei de um evento público ontem, dando apoio ao presidente e participarei de outros. Vamos lembrar que durante a gestão tão saudosa, tão elogiada do Lula, o que aconteceu foi uma série de coincidências que nunca mais vai acontecer e que ele não soube aproveitar. Foi o boom das commodities, foi a descoberta do pré-sal, a chegada da Copa do Mundo e da Olimpíadas no Brasil. E nada de reforma, nada de avanços estruturais. O Brasil ficou vivendo ali a bonança do momento e, depois, tivemos a grande ressaca em 2015 e 2016, a maior recessão da história. Vamos relembrar todas essas tragédias e que ainda foram potencializadas por um esquema de corrupção jamais visto.

O senhor teve em sua coligação aliados do presidente Lula, que incentivaram o voto no ex-presidente, como integrantes do Avante e do Solidariedade. Essa aliança não soa contraditória?

De forma alguma. O PT, para mim, representa o atraso e o que não funciona. A questão política é secundária, nós tivemos muitos candidatos que estavam em partidos que apoiavam Lula e me apoiaram simplesmente por uma questão de partido. No Brasil, infelizmente, nós ainda temos essa grande diversidade de partidos em que alguns caciques decidem, lá em Brasília, de que lado vão estar sem escutar as bases. Muitas vezes os partidos no Brasil não têm nenhuma identidade, tem ali tudo quanto é tipo de pessoas.

E quais são esses 20% que o senhor concorda com Lula?

Eu acredito em projetos sociais, que é necessário o Estado ajudar aquelas pessoas mais carentes em momentos difíceis, como numa pandemia ou uma recessão. Mas não foi isso o que aconteceu em Minas Gerais. O governo PT-Pimentel cortou o repasse para as prefeituras do piso mineiro de assistência aocial. Eles falam que são do social. Eu acredito no social, mas acredito no social feito, não no social discurso.

É possível mudar a posição do eleitor do Lula que votou no senhor, de modo que ele vote em Bolsonaro no segundo turno?

Eu pretendo mostrar ao mineiro, principalmente para aqueles que votaram no candidato do PT, que o outro candidato tem uma série de vantagens. Não sei se eu vou conseguir converter 5, 10, 15 ou 20% desses eleitores, mas estarei aqui totalmente empenhado, porque acredito muito mais nas propostas de um candidato como o presidente Bolsonaro do que no candidato do PT, que fez metrô na Venezuela, mas não fez aqui em Belo Horizonte.

Historicamente, em Minas Gerais, o governador apoia presidenciáveis que acabam derrotados no estado. Agora seria diferente?

Cada eleição é uma história diferente. Tenho aqui em Minas Gerais 853 prefeitos. Ninguém é perseguido, discriminado ou privilegiado. Percebo que no governo federal também tem tido esse tipo de atitude. Quanto mais técnico for um governo, menos decisões arbitrárias ele terá. Estados que tinham ou têm ainda governadores contrário ao presidente Bolsonaro, pelo que eu acompanhei, não tiveram nenhuma sanção, não foram prejudicados nem foram perseguidos. Tenho a minha opinião e vou levá-la adiante para tentar mostrar que ela é o melhor caminho. Se alguém que não acredita for eleito, paciência. Temos que ter diálogo.

Minas perdeu arrecadação com as mudanças na alíquota do ICMS feitas durante o governo Bolsonaro. Como explicar isso para o seu eleitor?

Pelo que eu estou vendo, o mineiro está satisfeito com a redução de impostos. Tenho 57 anos e não me recordo de nenhum momento em que o combustível tenha tido um recuo de preço tão expressivo como agora. Um estado, não só Minas, que passa a ter uma redução de receita, vai ter que fazer ajustes para ficar mais eficiente. E é isso que o cidadão quer, menos impostos e um governo mais eficiente.

Mas essa redução na arrecadação não pode afetar os serviços que o estado oferece aos municípios?

Já pedi uma análise da Secretaria da Fazenda. Uma das coisas que eu já posso te adiantar é o seguinte: quando o preço diminui, as pessoas consomem mais, as coisas ficam mais acessíveis. A perda não é tão linear como algumas projeções indicam. Na hora em que a gasolina tem um valor menor, as pessoas arriscam a viajar mais, a fazer um passeio no final de semana que não iriam fazer. Além disso, há uma previsão de compensação. Parte dessas perdas será abatida com a dívida da União. Foi uma medida que vale para todo o Brasil e que beneficiou grande parte da população. Se alguém ali é gastava X com gasolina e agora gasta X menos 30%, ele tem mais recurso, inclusive, para pagar uma consulta médica que ele precisaria. Tudo isso tem que ser considerado.

Ao longo do último ano, Bolsonaro tentou diversas vezes ter o senhor no palanque. Qual foi o acordo que o senhor fez com o presidente?

No primeiro turno tinha um candidato a presidente do meu partido, o Luiz Felipe D’Avila, que tinha todas as prerrogativas para fazer um ótimo governo. Agora, eu não posso me manter neutro. A pauta do presidente não é a pauta dos meus sonhos. Mas, como eu disse, eu o apoio em 70%. O que nós conversamos em Brasília não tem nada de toma-lá-dá-cá. Eu disse: “ó, nós temos divergências, mas nesse momento eu me sinto totalmente comprometido em apoiá-lo, porque da outra parte a convergência é mínima”. A única coisa que eu solicitei é que os parlamentares dos partidos que trabalham com ele trabalhem conosco aqui em Belo Horizonte, o que já acontecia praticamente de maneira natural. E solicitei também que os projetos do governo federal em Minas, como metrô de Belo Horizonte, a concessão das [rodovias] 381 e 262, sejam acelerados ao máximo.

Foi especulado que o senhor conversou sobre a possibilidade de sucedê-lo em 2026.

Seria algo totalmente inapropriado. Eu quero é focar aqui no meu governo e nos problemas de Minas Gerais. Se eu fizer um governo muito bom e tiver plena convicção de que posso estar ajudando e colaborando, quem sabe? Me pergunta isso daqui três anos e meio, está bom?

O Novo não superou a cláusula de barreira este ano. A bancada da legenda no Congresso encolheu e, na Assembleia de Minas, os deputados do partido não foram reeleitos. A que se deve essa derrota?

Foi uma eleição excepcional. Nós tivemos muito mais puxadores de votos do que em outras eleições. Candidatos bem votados acabaram não tendo o seu nome confirmado porque outros, menos votados, foram eleitos na carona dos puxadores de votos. Mas eu estou muito bem no partido Novo, não tenho nenhuma pretensão de mudar de partido.

Falando de problemas de Minas, nesta semana, as chuvas já deixaram mais de 600 mineiros desalojados e desabrigados. Ao longo do governo do senhor, essa foi uma situação que se repetiu. O que o senhor fará neste novo mandato para evitá-la e que não foi feito nos últimos quatro anos?

Eu estive em Muriaé na quarta-feira e pude presenciar avanços devido às ações que nós tomamos nessa minha gestão. Vi várias prefeituras dando apoio à cidade, dezenas de viaturas que a minha gestão forneceu para as prefeituras e que naquele estavam mobilizadas visando atender aquelas famílias que foram mais atingidas. Fizemos um encontro essa semana onde mais de 500 prefeituras participaram para adotarem medidas preventivas e também [adotar] uma reação adequada em caso de qualquer fato excepcional, como esse que aconteceu. Felizmente, vale salientar, não teve nenhuma vítima nem feridos. Então, são medidas preventivas que nós temos feito, mas com o tempo nós queremos fazer muito mais. Nós temos aqui obras que dependem de recursos e que custam caro. Obras tipo desassoreamento de rios, construção de alguns piscinões, barragens. Mas são obras que vão levar alguns anos para serem executadas. Nesse momento nós já temos toda uma estratégia, um planejamento, para que caso alguma enchente, deslizamento, tornados como esse aí que acometeram Muriaé aconteçam, haja uma rápida resposta por parte do Estado.