Título: ONU: resgate é 'um pesadelo'
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/10/2005, Internacional, p. A14

Operação de assistência às vítimas do terremoto enfrenta problemas

MUZAFFARABAD - Duas semanas depois do terremoto no Paquistão - considerado o mais grave da história do país - a ONU classificou a operação de assistência às vítimas como o ''pior pesadelo logístico'' que a instituição já enfrentou desde o tsunami. Segundo afirmou Jan Egeland, coordenador da ajuda humanitária de emergência do organismo.

Apesar dos sucessivos apelos pelas vítimas do sismo, os suprimentos só estão chegando agora. A região montanhosa e o inverno são obstáculos que agravam ainda mais a situação. E os membros das equipe, muitas vezes, precisam se locomover em burros e mulas para chegar até os lugares remotos onde estão os feridos.

Egeland estima que 500 mil vítimas permanecem sem ajuda. Outras 3 milhões estão desabrigadas. São pessoas que estão em risco de vida, feridas sem tratamento e expostas ao frio.

Em alguns lugares chove, em outros começou a nevar. Segundo um fazendeiro local, são necessários cobertores, já que muitos indivíduos têm febre e pneumonia. Doentes em estado mais grave, com ossos fraturados e infecções, precisam com urgência de ajuda médica. Outro problema são os desabrigados.

- É certo dizer que não há barracas suficientes disponíveis no mundo para atender a demanda - alertou Andrew MacLeod, chefe do escritório de operações do centro de emergência da ONU, em Islamabad.

A porta-voz do organismo, Amanda Pitt, afirmou que o estoque de barracas está esgotado no Paquistão.

- Sei que parece dramático, mas é realmente um exemplo de natureza subjugando o homem - acrescentou.

Alain Pasche, coordenador das operações de ajuda das Nações Unidas em Muzaffarabad - capital da Caxemira paquistanesa - declarou que o pior cenário é nas pequenas vilas.

- Não sabemos exatamente o número de pessoas que formam a população. Além disso, não há recursos. O estoque do exército está todo embaixo dos escombros - afirmou Pasche.

Segundo Keith Ursel, do Programa Mundial de Alimentos, a comida começou a chegar apenas ontem:

- Não temos como transportar os alimentos por helicóptero - observou.

A agência da ONU distribuiu 40 toneladas de biscoitos vitaminados, mas pretende entregar mais 500 toneladas de comida, como lentilhas, trigo, chá, tâmara e açúcar.

O secretário-geral, Kofi Annan, fez ontem um apelo para que a comunidade internacional se sensibilize com o problema da necessidade de ajuda às vítimas do terremoto. Até agora, de acordo com as cifras oficiais, pelo menos 49.739 morreram no Paquistão e 1.329 na Caxemira indiana.

- Será produzida uma segunda hecatombe se não redobrarmos os esforços agora. - disse o secretário-geral.

- Deveria ser colocada em prática uma segunda ponte aérea de Berlim - sugeriu Egeland, numa referência aos socorros enviados, em 1948, pelos Aliados à capital alemã, cercada pelas tropas soviéticas.