Título: Irritado, ex-ministro reage a relatório
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 19/10/2005, País, p. A2

José Dirceu prometeu que em 48 horas vai apresentar a contraprova, rebatendo ponto a ponto o relatório apresentado por Júlio Delgado (PSB-MG). Contrariado, o petista afirmou que o texto é extremamente tendencioso. ¿ Foi um voto de má-fé. Distorceu dados, usou trechos de depoimento omitindo fatos a meu favor. Eu jamais poderia ser inocente. Tenho de ser culpado ¿ resumiu Dirceu.

O petista continua confiante em que será absolvido em plenário. Lembrou que não apareceram provas de seu envolvimento com o esquema do mensalão. O ex-chefe da Casa Civil jogou uma batata quente no colo dos conselheiros.

¿ Eles cassaram o Roberto Jefferson porque mentiu ao denunciar algo que não existia, o mensalão. Como posso ser mentor de algo que não existe?

O ex-ministro afirmou que está há 150 dias tentando provar sua inocência, numa ¿total inversão da ordem jurídica¿.

¿ Tenho consciência de que o que está em jogo não são as denúncias de corrupção ou de uti lização de recursos irregulares pelo PT. O que está em jogo é a minha biografia, do PT e do governo Lula ¿ reforçou.

Dirceu acrescentou que o Conselho de Ética está se antecipando aos trabalhos de duas CPIs, que ainda não comprovaram a existência do suposto pagamento de propina a parlamentares. Repetiu que não participa da vida do PT desde o dia 7 de dezembro de 2002, quando deixou o partido para integrar o governo Lula. Lembrou que, da noite para o dia, foi transformado em bandido, em chefe de quadrilha, sendo chamado, até, de ¿Maluf da esquerda¿:

¿ Não sou corrupto, sempre lutei contra a corrupção, tenho minha consciência tranqüila.

Dirceu garante que vai lutar para provar sua inocência, mesmo que ¿isto leve 20 anos¿.

Além do Conselho de Ética, Dirceu ainda espera a resposta da CCJ e do Supremo Tribunal Federal. Ambos os julgamentos acontecem hoje. No primeiro, Dirceu alega que o processo de cassação não pode prosseguir, uma vez que o autor da representação, o PTB, desistiu de cassá-lo. No segundo, o petista apóia-se no argumento de que não pode ser acusado de quebra de decoro porque não era deputado na época do suposto mensalão.

¿ Nas duas situações, o que busco é apenas justiça. Mas quem vai me absolver é o Plenário. (P.T.L.)