Título: Corrupção persegue o Brasil
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 19/10/2005, País, p. A3

No último dia do tour pela Europa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a notícia de que a imagem de país corrupto do Brasil piorou durante os primeiros anos de seu mandato. O Brasil caiu de 59º lugar para o 62º colocado no ranking elaborado pela ONG Transparência Internacional, que questiona a percepção de corrupção. Lula chegou a afirmar ontem, na Rússia, que não teme voltar a enfrentar a crise. O presidente passou por Portugal, Espanha, Itália e Rússia. Divulgado ontem, em Londres, o Índice de Percepção da Corrupção 2005 mostrou que a nota do Brasil caiu de 3,9 em 2004 para 3,7 em 2005, sendo que a escala é de 0 a 10. Foi o oitavo ano consecutivo que a nota do Brasil ficou dentro da margem de erro, de dois pontos percentuais.

Na escala de zero a dez, uma nota menor que cinco indica ¿níveis graves de corrupção¿. O país ocupa a 62ª posição de um total de 158 países. No ano passado, estava em 59º, mas o universo era de 146.

Entre os países da América Latina, o Brasil ficou em nono lugar num total de 26, atrás de Colômbia, Cuba, Uruguai e Chile. Este último ocupa a primeira colocação entre os latino-americanos e ficou em 21º no ranking geral. O secretário-geral da ONG Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, afirmou que essa estagnação reflete a ¿ausência histórica de medidas eficazes de combate à corrupção¿. Para ele, a integridade do país não melhorou.

O secretário-geral da ONG acrescenta que países que ficam com a classificação inalterada, são vistos pelos formadores de opinião internacionais como não tomaram medidas eficazes para reduzir as fraudes.

¿ Por que essa percepção não melhora? Porque as causas da corrupção não são combatidas ¿ questiona.

A imagem de país corrupto não é uma prerrogativa apenas do Brasil, mas de todos os países em desenvolvimento, inclusive da América Latina.

Mesmo em 62º lugar, o Brasil está na frente da Rússia, que ocupa a 126ª posição, da Índia (88ª) e da China (78ª), vistos como as principais potências emergentes do mundo.

O México, maior economia da América Latina, também ficou atrás do Brasil, empatado em 65º lugar com o Peru, o Panamá e a Turquia. Já a Argentina ficou com a 97ª colocação, junto com os africanos Argélia e Moçambique.

A Colômbia foi a surpresa positiva, já que apareceu em 55º lugar. Isto porque o presidente Álvaro Uribe tenta acabar com a guerrilha armada.

A posição dos países da América Latina, abaixo até de alguns países africanos, pode frustrar a necessidade de investimentos para a região. A percepção internacional de corrupção deve afastar investidores que podem migrar seus planos para Taiwan, Turquia e Estônia, países que melhoraram suas posições.

O índice para o Brasil foi calculado com base em questionários aplicados entre 2003 e 2005 a dez instituições, entre elas a Universidade Columbia (EUA) e o Fórum Econômico Mundial.

O ministro da Controladoria Geral da União, Waldir Pires, questionou a metodologia do levantamento.

¿ É preciso deixar claro que as pesquisas utilizadas para a formação desses índices não especificam as esferas de governo (União, Estados ou municípios), nem os diferentes poderes (Executivo, Legislativo ou Judiciário) ¿ disse. O ministro admitiu, porém, que é natural que a percepção da corrupção aumente neste momento, em razão de ¿toda essa saraivada de denúncias¿. Ele acrescenta, porém, que não significa que a corrupção seja um problema novo ou que tenha aumentado.

¿ Nunca se combateu tanto a corrupção no Brasil como agora, mas temos consciência de que a luta contra a corrupção, um fenômeno antigo e global, não produz resultados imediatos, muito menos no espaço de um mandato ¿ afirmou Pires.