Correio Braziliense, n. 21770, 24/10/2022. Política, p. 5

Jefferson cai na conta de Lula

Denise Rothenburg


A ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva transformou o debate marcado para a noite de domingo, na Rede Record, em uma sabatina em que o presidente Jair Bolsonaro teve uma hora para classificar o adversário de “fujão”, que tem medo debater e falar, sem contestação, sobre os mais variados temas que preocupam o eleitorado, especialmente, economia. E para tirar de si qualquer conexão com o ex-deputado Roberto Jefferson e jogá-la no colo do rival.

“Quem atira em policial, bandido é. O ‘fujão’ quer tirar proveito eleitoral disso, dizendo que Jefferson coordena a minha campanha. Ele não coordena e nem tem amizade comigo. Está, inclusive, me processando. Quem me processa não é meu amigo”, afirmou.

Bolsonaro tratou, ainda, de jogar Jefferson no colo de Lula, ao se referir às estatais que, segundo ele, deram prejuízo no passado. “Quando alguém comete algum crime, nós afastamos. Ele (Lula), não, sempre tratou bem. Jefferson delatou o José Dirceu”, lembrou, referindo-se ao escândalo do mensalão, que veio à tona em 2005 pelas mãos pelo então deputado federal. “A forma como o PT governou foi comprando votos”, acrescentou.

Logo na primeira pergunta — o que ele indagaria a Lula se o petista estivesse presente —, Bolsonaro se referiu ao reajuste de aposentadorias e pensões, lembrando os escândalos envolvendo os fundos de pensão nos governos petistas. “O PT quebrou três fundos de pensão. Se o PT voltar vai quebrar tudo no Brasil”, disse, referindo-se às previdências privadas de Correios, Petrobras e Banco do Brasil.

Já no segundo bloco, quando perguntado sobre o reajuste do salário mínimo, Bolsonaro acenou com correção acima da inflação, extensivo a aposentadorias e pensões, além de reajustes para os servidores. “(O ministro da Economia) Paulo Guedes falou e, se ele falou isso agora, sabe como botar em prática. Confio nele”, garantiu.

Quanto aos projetos para o futuro, o presidente defendeu a redução da maioridade penal — bandeira que carrega desde os tempos em que era parlamentar. Mencionou, ainda, que no segundo mandato quer dar prioridade à educação básica — salientou que seu governo “salvou a garotada do Fies” — e que o consignado do Auxílio Brasil permite tirar as pessoas das mãos de agiotas.

Reforçou, também, a ideia de isentar de Imposto de Renda quem recebe até R$ 5 mil, promessa feita também por Lula, e a manutenção dos recursos do BNDES para projetos no Brasil. “Foram construir porto em Cuba e metrô em Caracas, e Belo Horizonte não tem metrô.”

Nem mesmo o estilo “rude no palavreado”, que Bolsonaro admite ter, ficou de fora da sabatina: “Tem gente que fala que não vota em mim, porque falo palavrão. Falo palavrão, mas não sou ladrão. Desfile de etiqueta, não sou eu. Não temos palavras bonitas, mas temos ações concretas”, assegurou.