Título: A oposição estende uma mão ao governo
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/10/2005, País, p. A4

A poucos minutos do meio-dia de ontem, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) interrompe uma conversa com jornalistas em seu gabinete. Precisa receber o ministro Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento. O assunto era importante e ele chama seu colega de estado e bancada, Rodolpho Tourinho. Menos de meia hora depois, o ministro e Tourinho saem. ACM revela que foi procurado em nome do governo para ajudar na aprovação da ''nova MP do Bem''. Para salvar o pacote de incentivos à indústria, o Palácio do Planalto resolveu incluí-los na MP 255, que trata da previdência complementar e está no Senado.

Este contrabando foi a forma encontrada pelo Executivo para não prejudicar as empresas, após o desastre da votação da MP do Bem original, na semana passada.

A estratégia de Furlan foi acertada, anteontem, com Jaques Wagner, ministro da Articulação Política, e deveria evitar o confronto e privilegiar o diálogo. Parece ter dado certo, pois os líderes da Casa já estenderam uma das mãos ao governo. A negociação prossegue hoje, às 15h.

Quórum O quórum do Supremo Tribunal Federal não estará completo hoje, quando o plenário julgará o mandado de segurança em que o deputado José Dirceu (PT-SP) pede a suspensão do processo de cassação de seu mandato, no Conselho de Ética da Câmara.

Em viagem É que o ministro Cezar Peluso viajou ontem para Sevilha, a fim de representar o STF na Conferência Ibero-Americana de Justiça Constitucional.

Fulo da vida Lula não gostou do recuo dos petistas que preparavam a renúncia. Mas o presidente ficou furioso mesmo foi com a intervenção do deputado José Dirceu (PT-SP), que trabalhou contra a renúncia.

Só o Rocha? Anteontem, Lula já ensaiava uma comemoração pelo fim da crise quando recebeu a notícia. ''Apenas o Paulo Rocha?'', reagiu o presidente.

Sem saber Mas alguns petistas não entenderam a reação do Planalto à decisão dos acusados de envolvimento com o mensalão de não renunciar.

Único gesto Afinal, argumentou um parlamentar do PT, Lula desde a eclosão da crise fez apenas um gesto de apoio aos petistas ameaçados de cassação: durante a reunião daquela sexta-feira no Planalto.

Descolando do PT Para um dos processados do PT no Conselho de Ética, Lula tem feito de tudo para se descolar do partido, por isso não tem do quê reclamar. Tirou a estrela vermelha da lapela e se recusou a votar no primeiro turno das eleições internas.

Gangue dos cinco Para completar, o epíteto ''Gangue dos Cinco'', cunhado nos corredores do Palácio do Planalto para se referir aos cinco petistas que ingressaram no Supremo Tribunal Federal (STF), chegou aos ouvidos dos parlamentares e, claro, não caiu nada bem.

A mão de Fernando Foi preciso a mão de Fernando Henrique Cardoso para apaziguar os ânimos entre ''serristas'' e ''alckminstas''. Os dois lados selaram um pacto de não agressão até a escolha do candidato tucano à sucessão de Lula.

Nada de corpo mole O presidente da Câmara, Aldo Rebelo, não quer falar em convocação do Congresso em janeiro. Motivo: deseja evitar o corpo mole antecipado de parlamentar. No fim do ano se discute se a convocação será necessária. Nesse caso, Aldo está coberto de razão.

Financiamento O governador do Maranhão, José Reinaldo (PSB), desembarca hoje em Brasília para pressionar o Congresso a apressar a liberação de um financiamento de US$ 30 milhões do Banco Mundial (Bird).

Nova polêmica à vista No rastro da discussão sobre o desarmamento, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), apresenta hoje uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que estabelece percentuais mínimos de gastos com segurança pública: 15% para a União, 7% para os Estados e 1% para os municípios.

A iniciativa é polêmica e encontra resistência na área econômica do governo, pois, além de vincular parte dos recursos da União, vedaria quaisquer contingenciamentos para o setor.

Este ano, por exemplo, o Orçamento da União reservou R$ 480 milhões para segurança pública. Mas só R$ 12 milhões foram executados, ou seja, menos de 3%.

Jogo Rápido

Faz um ano que foi regulamentada a Lei do Abate de aeronaves clandestinas. Nenhum avião foi derrubado neste período. A Aeronáutica garante que todas as aeronaves interceptadas ''acataram as ordens de defesa aérea''. O governo diz que no mesmo período instalou novos radares, modernizou o sistema e ampliou a capacidade de detecção. Com isso, informa a Aeronáutica, ''não é possível comparar dados estatísticos'' dos últimos anos. O Planalto acrescenta que o tráfego desconhecido não está necessariamente ligado ao tráfico de drogas. Será? SÉRGIO PRADO (Com equipe)