Título: Citibank será investigado
Autor: Fernando Exman
Fonte: Jornal do Brasil, 19/10/2005, País, p. A5
A CPI do Mensalão aprofundará as investigações sobre os negócios do Citibank no Brasil. O relator da comissão, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), afirmou que os depoimentos concedidos ontem pelo presidente da subsidiária brasileira do banco norte-americano, Gustavo Marin, e pelo representante do fundo CVC e procurador do Citigroup, Sérgio Spinelli Silva Júnior, deram pistas dos rumos que as apurações da CPI vão tomar. O objetivo dos integrantes da comissão é descobrir possíveis ligações do banco com os supostos esquemas de compras de votos na época da reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de apoio político de deputados pelo governo Lula.
- Se o conteúdo dos depoimentos forem convenientemente desdobrados, teremos um caminho fértil a seguir: o quem é quem, como funciona e até onde chegam as ramificações do Citigroup - disse Abi-Ackel, referindo-se aos contratos, representantes e o sistema de empresas subordinadas ao Citi no País.
O foco das investigações da CPI do Mensalão será o acordo de opção de venda de ações das empresas controladas pelo fundo de investimento CVC - cujo cotista é o Citigroup - e pelos fundos de pensão de estatais Petros (Petrobras), Previ (Banco do Brasil) e Funcef (Caixa Econômica Federal) feito entre o Citigroup e esses fundos.
O acordo, de março deste ano, garante ao Citigroup o direito de vender as ações que detém das empresas controladas pela sociedade, como Brasil Telecom, Telemig Celular, Amazônia Celular, Metrô do Rio de Janeiro, Santos Brasil e Sanepar. Segundo alguns parlamentares que integram a CPI, esse contrato prejudica os fundos de pensão porque obriga essas instituições a comprarem os papéis.
Marin e Spinelli, porém, afirmaram que o acordo foi benéfico para os fundos. Segundo os executivos, o acordo permitiu aos fundos voltarem ao grupo de controle das empresas e conquistarem o direito de obter 100% do valor das ações caso essas companhias sejam vendidas.
Anteriormente, quando o Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, geria o CVC e administrava as companhias, os fundos tinham direito a receber apenas 80% do preço das ações se as empresas fossem vendidas.
Marin afirmou que Citi e fundos querem agora vender as empresas. Ele não deu mais detalhes sobre as intenções do grupo.
A respeito do Opportunity, Marin e Spinelli tiveram que explicar aos integrantes da CPI porque o Citigroup destituiu Dantas do CVC e agora está excluindo seus representantes das diretorias e conselhos de administração das empresas controladas pelo fundo. O presidente do Citi no Brasil negou que houve influência política para a tomada dessa decisão.
No processo que corre na Justiça americana, lembrou o executivo, o Citi acusa o Opportunity de, entre outras irregularidades, ter realizado fraudes e enriquecimento sem causa:
- Ficou comprovada a má-fé do gestor, que ele havia sido infiel. O governo (ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o ex-ministro da Casa Civil e deputado José Dirceu) sempre falou que esse era um assunto privado e que devia ser resolvido no foro adequado, que foi o que aconteceu.
Questionado se essas fraudes poderiam ter como finalidade a participação das empresas administradas pelo Opportunity no esquema do mensalão, Spinelli foi evasivo.
- Os fatos virão à tona do processo que corre em Nova York, foro definido pelo contrato entre Citigroup e Opportunity.