Título: Picciani expõe crise no PMDB do Rio
Autor: Paulo Celso Pereira e Rodrigo Camarão
Fonte: Jornal do Brasil, 19/10/2005, País, p. A7
Na véspera de o secretário de Governo do Rio Anthony Garotinho lançar sua pré-candidatura à Presidência da República, foi aberta uma crise no PMDB do estado. O presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Picciani, enviou ontem à direção regional do partido, presidida por Garotinho, uma carta na qual comunica que irá pedir o afastamento da presidência da Alerj por 120 dias. Com a atitute, a governadora Rosinha Matheus perderia o controle do Legislativo Estadual, que passaria a ser comandado pela deputada do PT Heloneida Studart. Picciani tem se queixado a aliados que o governo não tem cumprido os acordos feitos com ele e com a Casa.
O primeiro secretário do partido, Carlos Alberto Muniz, recebeu o documento às 14h. Segundo ele, além de ameaçar se afastar da presidência da Alerj, Picciani pediu licença da secretaria geral do PMDB e a convocação de reunião da Executiva regional - ainda a ser marcada.
- Ele pediu a reunião para explicar as razões do afastamento - afirmou Muniz.
Deputados ligados ao presidente da Casa afirmam que o pedido de afastamento tem o intuito de pressionar Garotinho, que, como secretário de Governo, é responsável pela articulação do estado com a Alerj. Os parlamentares se queixam que o governo não tem cumprido acordos. Além de não liberar verbas, os deputados da base aliada reclamam que não têm sido recebidos no Palácio.
O Governo do Estado informou através de sua assessoria, que ''há disposição para o entendimento e uma expectativa que isso seja solucionado rapidamente''.
Caso Picciani leve a decisão a cabo, a presidência da Alerj iria parar nas mãos do PT. A petista Heloneida Studart é a vice-presidente:
- O Picciani é um homem de cumprir palavra. Essa atitude é uma demonstração de que o governo tem quebrado acordos. Mas enquanto isso, é possível que o Garotinho faça um acordo com ele. Porque o que Garotinho mais teme na vida é entregar a Alerj à esquerda. E se Picciani sair, assumo imediatamente - explicou a deputada, que se diz ''socialista'' e ''feminista''.
Na semana passada, o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu esteve no Rio e conversou com Picciani, tentando conseguir apoio do PMDB para evitar sua cassação de mandato na Câmara. O encontro teria acirrado as relações entre Picciani e Garotinho.
A insatisfação de Picciani no entanto, passaria também pelas eleições de 2006. Lançado com antecedência como pré-candidato do partido ao Senado, o presidente da Alerj já está praticamente fora da disputa.
Apesar de estar em Brasília para se lançar como pré-candidato, Garotinho enfrenta forte resistência dentro do PMDB. Grupos do partido acreditam que conquistar a presidência com Garotinho seria ''ganhar e não levar''. Com isso, a tendência hoje é que o PMDB fique com a vice-presidência da chapa de Lula ou lance um de seus governadores como candidato já no primeiro turno.
Se isso acontecer, o ex-governador poderá ser candidato a deputado federal. Sua mulher, a governadora Rosinha, sairia ao Senado, em detrimento das expectativas de Picciani, que ficaria apenas com a suplência.
Ontem, enquanto o assunto fervilhava na Alerj, Picciani preferia não polemizar, alegando que a licença não havia sido formalizada. Mas lembrava que está no partido há 10 anos, ''antes de muita gente entrar''. Garotinho se filiou em 2003.