Título: Policial confessa participação no roubo
Autor: Ricardo Albuquerque
Fonte: Jornal do Brasil, 21/10/2005, Rio, p. A16

Rocha revela que escrivão entregou a chave da sala-cofre da Polícia Federal e que o arrombamento foi uma farsa da quadrilha

O mistério sobre o furto de R$ 2 milhões na Superintendência da Polícia Federal, na Praça Mauá, foi desvendado ontem, com o depoimento de um dos acusados. O agente federal Marcos Paulo da Silva Rocha admitiu a participação no roubo que, há um mês, provocou a maior crise da história da PF no Rio. Depois de 12 horas de depoimento, Rocha afirmou que o escrivão Fábio Marôt Kair entregou a chave da sala-cofre para que as notas de euro, dólar e real pudessem ser retiradas sem levantar suspeitas. De acordo com os investigadores, as revelações mostram que o arrombamento não passou de uma grande farsa. Em Angra dos Reis, policiais da Divisão de Inteligência apreenderam R$ 20 mil na casa de Rosália Marôt, mãe do escrivão. Rocha confirmou que entrou no prédio da superintendência em 18 de setembro com Ubirajara Saldanha Maia, o Bira, escondido no porta-malas de seu carro, o Audi A3 azul, placa LNN-7784. Segundo Rocha, a chave da sala-cofre da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) foi entregue por Kair no dia anterior ao roubo. Depois de permanecer 20 horas no interior do veículo, Bira abriu o cofre, roubou o dinheiro e voltou para o porta-mala.

Como trabalhava na Delegacia de Dia, Rocha pediu para sair do plantão duas horas antes de seu horário, alegando que estava passando mal. Ao sair do prédio da Polícia Federal, Rocha estacionou o carro na Avenida Rodrigues Alves e abriu o porta-malas onde estava escondido o seu comparsa. No depoimento à Polícia Federal, Rocha garante que Kair recebeu parte do dinheiro roubado.

- Ele saiu antes do horário para evitar surpresas quando descobrissem que o dinheiro havia desaparecido - constatou Alessandro Moretti, delegado responsável pelo inquérito.

Moretti apura o roubo e, em outro inquérito, o duplo homicídio que ocorreu na Barra da Tijuca em março deste ano. Ambos os crimes tiveram participação direta de Rocha e Kair. Em depoimento à Justiça Federal, o escrivão aceitou ser inscrito no programa delação premiada em troca da redução da pena, conforme o JB antecipou. Kair acusou Rocha de assassinato depois de ser pressionado pelos investigadores. Imagens feitas por uma câmera de um shopping mostram o envolvimento dos policiais, identificados por peritos do Instituto Nacional de Criminalística. Moretti negou que os dois tenham ficado frente a frente, na terça-feira, para uma acareação.

- Como remeti o relatório final para a Justiça, serei obrigado a incluir um aditamento contando que o Rocha revelou o esquema - observou Moretti, que já preparou a complementação de informações.

Na sede da Polícia Federal, os agentes da Delegacia de Dia passaram o dia na expectativa de que a namorada de Rocha se entregasse. Ela está com a prisão temporária decretada por 30 dias pela 2ª Vara Federal Criminal. Até as 21h de ontem, a mulher do policial não se apresentou, conforme o acordo firmado entre Rocha e os investigadores.

- Ela pode nos ajudar a encontrar o carro velho (Dodge Charger branco IBL-3717) e, quem sabe, o restante do dinheiro que está faltando - disse Moretti.

A Polícia Federal recuperou, em lugares diferentes, R$ 840 mil dos R$ 2 milhões roubados na madrugada de 19 de setembro. A primeira parte (R$ 680 mil) foi abandonada próximo a uma lixeira, na Praça Afonso Pena, na Tijuca. A outra (R$ 160 mil) estava no interior de um guindaste, em Jacarepaguá, e fora deixado por Bira.