Título: Chávez se apossa de ilha no Caribe
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/10/2005, Internacional, p. A9

Os arquipélagos caribenhos costumam atrair milhares de turistas. Mas a Ilha das Aves, no meio do Caribe, está no centro de uma disputa na qual o clima de férias passa longe.

Este remoto banco de areia, sem árvores, com 580 m de comprimento por 500 m de largura, é o novo lar de 17 marinheiros venezuelanos, recentemente instalados em uma base militar na praia. Enquanto a vida segue os padrões do continente - inclusive com a realização de casamentos e batizados -, o governo de Caracas, a 612 km de distância, se estabelece no areal, muito mais próximo de Porto Rico, Dominica e Antígua.

- A Ilha das Aves pertence à Venezuela. Muitas nações do Leste do Caribe disputam a posse, mas viemos para reafirmar nossa soberania - justificou o comandante Guillermo Isturiz, pouco antes de ancorar perto da instalação militar: um posto de concreto, de três andares, que custou US$ 9 milhões.

O fato é que a ilhota não é exatamente o foco da disputa. Ao seu redor, as águas estão repletas de correntes que trazem atum, garoupa e vermelho. Acredita-se que abaixo do leito marinho haja petróleo e gás natural.

O objetivo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, é deixar bem claro os ''limites marítimos'' da nação. Mas para os demais países do Caribe, como Antígua e Dominica, Aves nada mais é do que um banco de areia e não deveria ser considerada território venezuelano.

- Certamente é Dominica, no que nos diz respeito - afirmou o primeiro-ministro, Ralph Gonsalves, cujo país fica 225 km a Leste de Aves.

Entretanto, apesar da contestação, aparentemente ninguém quer resolver a questão na base da violência.

- Desenvolvemos ótimas relações com a Venezuela e esperamos chegar a um acordo - suavizou o líder de Dominica, um dos países caribenhos que se beneficia com a compra preferencial, a preços mais baixos, do petróleo venezuelano.

O ex-premier de Antígua, Lester Bird, é um pouco mais provocativo do que Gonsalves. Lembra que se a ''zona econômica exclusiva'' de 200 milhas náuticas clamada pela Venezuela for respeitada, ''vai abranger além de Aves, Montserrat e Granada''.

- Esta pequena ilha é realmente uma questão disputada - admitiu o secretário-geral da Comunidade Caribenha, Edwin Carrington.

Chávez sabe disso e vai continuar investindo na tática da ocupação, com uma pitada de agressividade. No sábado, mais de 120 marinheiros e dezenas de civis desembarcaram em Aves, em uma visita simbólica a bordo de duas fragatas carregadas de metralhadoras e canhões de artilharia. Para criar vínculos afetivos, foram celebrados pela primeira vez no banco de areia dois casamentos e três batizados, de filhos de oficiais. Tudo com a benção de um capelão.

- É histórico - comemorava o capitão de um dos navios, Yldefonzo Gandica, enquanto estourava uma garrafa de champanhe com a recém-esposa, Geraldine Pibernat de Gandica, em frente ao posto militar.

A Venezuela também abriu a ilhota a biólogos que estudam diversas espécies de pássaros e tartarugas marinhas, em risco de extinção.

- É a nossa ilha. Por isso estamos aqui - insistiu Andres Bocaranda, autoridade do Ministério de Relações Exteriores de Caracas, um dos visitantes de Aves, que no passado foi reclamada também pela Grã-Bretanha, Espanha e pelos Estados Unidos.

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