O Globo, n. 32572, 11/10/2022. Política, p. 4

MPF quer explicações sobre denúncia feita por Damares

Mariana Muniz


O Ministério Público Federal (MPF) do Pará pediu informações, ontem, à secretaria executiva do Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos acerca dos supostos crimes contra crianças denunciados pela ex-ministra da pasta e senadora eleita, Damares Alves (Republicanos-DF). Um grupo de juristas também acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) e pediu que sejam apuradas as declarações de Damares.

O MPF quer saber quais providências foram tomadas pela pasta ao descobrir os supostos casos e se uma denúncia foi feita ao órgão na época.

Em um culto no último sábado, na igreja evangélica Assembleia de Deus Ministério Fama, em Goiânia, Damares afirmou, sem apresentar provas, que crianças na Ilha de Marajó (PA) são traficadas e sofrem outros tipos de violência, como a extração dos dentes, para depois serem submetidas a atos de exploração sexual.

A declaração da ex-ministra foi compartilhada nas redes sociais pelo deputado eleito Mario Frias (PL-SP). Na gravação, Damares diz ter descoberto o caso durante sua passagem pelo ministério.

—Todo mundo pergunta: por que Bolsonaro está fazendo o maior programa de desenvolvimento regional na Ilha de Marajó? Porque ele tem uma compreensão espiritual que vocês não têm nem ideia. Fomos para a Ilha de Marajó, e lá nós descobrimos que nossas crianças estavam sendo traficadas por lá. Marajó faz fronteira com o mundo, Suriname, Guiana. Vou contar uma coisa pra vocês que agora posso falar: nós temos imagens de crianças brasileiras com 4 anos, 3 anos, que quando cruzam as fronteiras são sequestradas — diz Damares.

Ainda segundo a senadora eleita, Bolsonaro teria sido alvo de ataques por combater abuso sexual contra as crianças.

— Os seus dentinhos são arrancados pra elas não morderem na hora do sexo oral. Nós descobrimos que essas crianças, elas comem comida pastosa para o intestino ficar livre para a hora do sexo anal — completou a ex-ministra.

Prevaricação

Na ação apresentada ao Supremo, o grupo “Prerrogativas” pede a apuração de suposto crime de prevaricação por parte da ex-ministra e de Bolsonaro, por não terem tomado providências, se as informações forem verdadeiras. Integrantes do grupo são próximos da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.