O Globo, n. 32572, 11/10/2022. Política, p. 7

“Troco” de Romário é não pedir votos no 2º turno

Gabriel Sabóia


O senador Romário (PL) informou a interlocutores que não pretende participar de atos pela reeleição de Jair Bolsonaro (PL) neste segundo turno. Apesar de correligionário do ex-jogador de futebol, o presidente declarou ter votado em Daniel Silveira (PTB) para senador pelo Rio, o que provocou a ira do senador. Ele justificou o afastamento e criticou a opção de Bolsonaro.

— O presidente, mesmo sendo do meu partido, resolveu apoiar um outro candidato, de outro partido, que estava inelegível. Inclusive declarou seu voto a ele no dia da eleição — pontuou em relação a Silveira e Bolsonaro.

Apesar da decisão de não se envolver no projeto de reeleição de Bolsonaro, Romário afirmou que votará no presidente pela fidelidade partidária e que, caso Bolsonaro obtenha êxito nas urnas, pretende estar alinhado com seus interesses. O senador não deixou de alfinetar Bolsonaro:

— Como já disse, eu jogo pelo time. Sou PL, sou 22 e meu apoio é para o Bolsonaro. Estou com o PL nessa eleição, e esse é o meu posicionamento. Foi assim durante toda a eleição e continuará assim em respeito à minha índole. Eu tenho palavra — dispara.

Desde que foi reeleito, Romário não fez menção a Bolsonaro em suas redes sociais. Minutos após ter recebido o resultado final das eleições, ele não escondeu a mágoa com o presidente: questionado se subiria ao palanque com algum candidato das eleições presidenciais, disse, à época, que a pergunta era “não muito fácil”.

— Essa pergunta não é muito fácil de responder, mas eu vou te falar, vou repetir: eu sou leal, eu respeito o combinado, eu cumpro a minha palavra. Infelizmente, tem pessoas que não fazem isso — disse.

Do mesmo partido de Romário, Bolsonaro revelou ter votado em Silveira ao Senado. A declaração foi dada por Bolsonaro após a votação no primeiro turno, na Vila Militar. Ao cumprimentar o deputado, o presidente disse: “Ô, animal, votei em você.” O encontro foi registrado em vídeo e publicado no perfil de Silveira no Instagram.

Na legenda do post, Silveira criticou o “apoio” de Bolsonaro a Romário e disse que, independentemente do resultado, o voto lhe deu a “sensação de dever cumprido”.

Romário teve 29,19% dos votos válidos e derrotou Alessandro Molon (PSB), Daniel Silveira (PTB), Clarissa (PROS) e André Ceciliano (PT). Em seu perfil do Instagram, ele publicou vídeo animado de uma corrida de cavalos, em que aparece em primeiro lugar, vencendo, seguido por seus oponentes. Molon aparece chorando; Clarissa Garotinho, como uma marionete manipulada pelo pai, Anthony Garotinho; e Silveira, com uma cabeça de burro. Já a adversária de Romário ao Senado, Clarissa (União), criticou o apoio de Bolsonaro a Silveira. Nas redes sociais, a deputada disse que Romário não foi aliado de Bolsonaro em nenhum momento.

Suplente de Flávio com Lula

O empresário Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), participou ontem de um ato de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Paulo. Marinho rompeu com Bolsonaro em 2020, depois de ter ajudado na campanha eleitoral de 2018. Ele chegou a ceder sua casa, no Rio, para a gravação do programa eleitoral do então candidato do PSL.

— Quem conhece Bolsonaro como eu conheço vota no Lula. Tenho que pagar uma penitência por 2018. Minha mulher costuma dizer que eu precisaria subir a escada da Penha 50 vezes para pagar essa penitência. Como eu não tenho essa disposição toda, eu achei que agora não é mais o momento de ficar nulo. Precisa ter lado. Meu lado agora é o Lula — disse Marinho.

Marinho estava acompanhado da filha, a cantora Giulia Be, e do namorado dela, Conor Kennedy, sobrinho-neto do ex-presidente americano John F. Kennedy (1917-1963). Segundo o empresário, Conor leu uma carta de apoio de sua família ao petista. Depois de romper com Bolsonaro, Marinho se filiou ao PSDB.