Valor Econômico, v. 20, n. 4962, 18/03/2020. Política, p. A9
Bolsonaristas marcam novo ato contra Congresso e STF
Cristian Klein
Uma nova manifestação de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, desta vez com defesa explícita do fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), está sendo convocada pelas redes sociais para o dia 31 de março, terça-feira, data em que se completam 56 anos do golpe de Estado que instaurou uma ditadura militar, em 1964. A convocação ocorre dois dias depois dos atos de domingo que reuniram grupos bolsonaristas, em meio à epidemia de coronavírus.
No cartaz, que já começa a ser compartilhado pelos simpatizantes mais radicais do presidente, há uma foto de Bolsonaro, de perfil e com fisionomia séria, e o título “Agora é guerra”, seguido de outras palavras de ordem como: “Chega de chantagem, # ForaSTF e #ForaCongresso”. A convocação afirma que “Agora é na frente dos quarteis”, mostrando que os bolsonaristas pretendem apelar a uma intervenção militar.
Nas manifestações do dia 15, tal conteúdo golpista foi esboçado nas primeiras convocações, mas, depois do repúdio de instituições e da sociedade, foi mitigado, com a afirmação de Bolsonaro de que se tratavam de atos democráticos.
Um dos representantes da tropa de choque bolsonarista no Congresso, o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) afirmou ao Valor que ainda não tinha tomado conhecimento sobre a convocação dos atos, mas que apoia a manifestação, apesar de defender um golpe de Estado e de representar mais um risco à disseminação do coronavírus. “Esse vírus não tem essa letalidade. Para mim, essa doença não é isso tudo; é para movimentação do mercado financeiro global, e serão ganhadores grandes empresas, grandes especuladores”, disse. O covid-19 já matou cerca de 8 mil pessoas em todo o mundo e tem gerado profundos temores sobre o impacto sobre a economia dos países.
Silveira afirmou que os bolsonaristas vão continuar a fazer manifestações porque “muitos brasileiros não acreditam que [a doença] tem essa letalidade”. O deputado disse que, se for chamado, participará dos atos, como fez em Copacabana, no domingo. “O que não tem cura, remediado está. Já botei a cara para tiro de fuzil, não vou por causa de uma gripe?”. Aglomerações, no entanto, estão proibidas pelo decreto assinado pelo governador do Rio Wilson Witzel (PSC), a quem Silveira considera um “esquerdista”, assim como o de São Paulo, João Doria (PSDB), ambos eleitos com a ajuda da onda Bolsonaro em 2018.
Apesar disso, o parlamentar afirmou defender outro tipo de “fechamento” do Congresso, por meio de uma renovação da legislatura, em 2022, de modo democrático. “A pessoa tem que se conscientizar do voto e saber quem ela vai escolher. Para mim, entre aspas, ‘fechamento’ de Congresso é isso”, disse.
Daniel Silveira também minimizou as chances de que protestos pedindo a intervenção militar tenha sucesso. “Isso aí depende da pressão popular e também das Forças Armadas, claro que eles não fariam isso hoje. Vamos partir para o discernimento”, disse o parlamentar.