Título: Mais 10 países vetam carne do Brasil
Autor: Dimalice Nunes
Fonte: Jornal do Brasil, 21/10/2005, Economia & Negócios, p. A22

Febre aftosa provoca barreiras em 41 nações. Ministro considera embargo normal, e CNA mantém projeção de exportações

BRASÍLIA - Mais dez países se somaram ontem a outros 31 que já tinham imposto algum tipo de restrição à carne brasileira. Agora, Bolívia, Cingapura, Egito, Moçambique, Namíbia, Noruega, Paraguai, Peru, Ucrânia e Uruguai também integram a relação formada pela África do Sul, Argentina, Chile, Cuba, Israel e Rússia, além dos 25 países da União Européia.

A Ucrânia bloqueou as carnes produzidas no Mato Grosso do Sul e Paraná, e a Noruega decidiu barrar os embarques do Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. Na América do Sul, Paraguai e Bolívia suspenderam o comércio de animais suscetíveis à aftosa, produtos e subprodutos de todo o Mato Grosso do Sul, enquanto Peru e Uruguai proibiram a entrada de carne bovina e suína, produtos e subprodutos de todo o Brasil.

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse que é natural que os países restrinjam a entrada de carne brasileira depois da confirmação do foco de aftosa. Quanto às perdas, Rodrigues reafirmou que ainda não é possível contabilizá-las, pois tudo dependerá da demora dos países em derrubar os embargos impostos.

- Isso já é esperado. É natural que haja um efeito-dominó - disse o ministro.

Para tentar reverter os embargos, comitivas de produtores e representantes do governo visitarão os países que interromperam a compra de carne brasileira.

Mesmo com todas as restrições à carne do Brasil, o presidente nacional de pecuária de corte da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), Antenor Nogueira, manteve a projeção de exportação em US$ 3 bilhões neste ano. No acumulado de 12 meses, até setembro, as vendas externas de carne bovina já ultrapassam esta marca. Em 2004, as exportações atingiram US$ 2,45 bilhões.

- Ainda é cedo para rever as projeções. Além disso, os principais frigoríficos têm unidades em outros estados. É só deslocar a produção - disse Nogueira.

Mas o setor produtivo não é unânime. O diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Antonio Camardelli, discordou da manutenção da projeção de exportações de carne. Para ele, as vendas externas não alcançarão os US$ 3 bi.

- A numerologia toda é incerta. Temos que aguardar o fim do mês para comparar com o mês anterior e só assim medir o impacto - disse Camardelli.

As expectativas da CNA, porém, podem ser revertidas. O próprio Nogueira disse que obteve informações de que o Ministério da Agricultura suspeita da existência de seis novos focos de aftosa, todos na área interditada no Mato Grosso do Sul. O ministério, porém, não confirmou a informação.