Título: Governo articula nova saída para Varig
Autor: Rafael Rosas e Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 19/10/2005, Economia & Negócios, p. A19

Acusado de não colaborar com o devido esforço para salvar a Varig, o governo federal, maior credor da empresa, decidiu jogar pesado na reta final da recuperação judicial da companhia aérea. A assembléia de credores da Varig bate hoje o martelo sobre a proposta de reestruturação a ser implementada e o Planalto aposta suas fichas no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como avalista da reestruturação.

Ontem, representantes dos credores públicos - Infraero, Banco do Brasil e BR Distribuidora - estiveram reunidos com o presidente em exercício, José Alencar, para definir a estratégia para a assembléia de hoje. Um acordo e a costura de uma proposta entre os representantes dos credores é essencial para manter a empresa operando, já que amanhã o juiz Robert Drain, da Corte de Falências de Nova York, pode decidir pelo arresto de aeronaves da companhia por falta de pagamento das parcelas de leasing, o que pode acabar deixando metade da frota da Varig no chão.

A tendência é que os credores federais e o Aerus apóiem uma proposta alternativa às que foram apresentadas pela diretoria da companhia, por trabalhadores da empresa e pela Docas Investimentos.

- As três propostas podem ser cruzadas em uma nova solução - explicou o presidente da República em exercício.

Questionado sobre a possibilidade de o BNDES injetar capital na companhia, Alencar chegou a afirmar que não havia nenhuma proposta nessa direção. Logo depois, porém, admitiu que a participação do banco na reunião de ontem era necessária por conta da experiência do BNDES em reestruturações de empresas por meio da BNDESPar. O aporte, ressalvou, só acontecerá se houver garantia financeira absoluta na proposta que for fechada entre os credores da Varig.

- Pode haver qualquer coisa, e o governo tem que estar atento ao que está acontecendo. Sem estatização, se o governo puder colaborar para uma solução que salve a companhia, o governo vai colaborar - afirmou Alencar.

Segundo o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que também esteve reunido com Alencar, a participação do BNDES na recuperação da Varig só ocorrerá se o plano defendido pelos credores tiver ''consistência técnica''.

Segundo representantes do Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), que representam as associações de funcionários da companhia, o BNDES teria procurado a instituição para costurar acordo conjunto que uniria aportes de US$ 100 milhões do banco estatal, de até US$ 200 milhões em recebíveis do banco português Efisa e de pelo menos outros US$ 100 milhões de trabalhadores da empresa.

Fontes afirmam que o fundo americano Matlin Patterson prepara para hoje a apresentação de uma nova proposta para compra da VarigLog. Pelo plano da diretoria da Varig, o fundo estaria disposto a pagar US$ 38 milhões em dinheiro e outros US$ 65 milhões em uma operação de antecipação de recebíveis de cartões de crédito.

Outro ponto que deve avançar na assembléia de hoje é a representação dos trabalhadores no Comitê de Credores. Caso não aconteça nova reviravolta na decisão da Justiça do Trabalho - que garantiu às associações de funcionários da Varig o comando das decisões do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) ligadas à recuperação da empresa -, os demais sindicatos do setor aéreo terão maioria simples no número de credores da classe 1 e ganharão o direito de escolher o plano que será implementado, mas não participarão do comitê. Já as associações, representando volume de créditos mais alto, terão o assento da classe 1 no comitê e poderão acompanhar a reestruturação.

- Para nós, o mais importante é mesmo a representação por cabeça, que nos garante a deliberação sobre o plano a ser escolhido - afirma Ivan Nunes Ferreira, advogado dos sindicatos de trabalhadores do setor aéreo.