Título: O 'Não' como voto de protesto
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 23/10/2005, País, p. A3

Pesquisa JB-IBPS indica vantagem de quase 15 pontos percentuais para os que se opõem à proibição da venda de armas

Num país em que as instituições funcionam mal e os principais partidos disputam o campeonato de quem comete mais irregularidades, o referendo que decidirá hoje sobre a proibição ou não da venda de armas de fogo e munição em todos os estados ameaça se transformar num voto de protesto contra a inércia governamental no setor. Isso é o que indica a Pesquisa JB-IBPS, realizada em todo o país, em que 51,1% dos entrevistados optaram pelo Não, contra 35,5% que se declararam favoráveis à proibição, enquanto 12,6% permaneceram indecisos e 0,8% não quiseram responder. Considerados apenas os votos válidos, o resultado final a favor do Não subiria para 59%, contra 41% para o Sim.

Um dos dados mais significativos da pesquisa mostra a relação direta entre os efeitos da violência sobre a vida do cidadão e a tendência para votar Não. Assim, entre os entrevistados vítimas de crimes nos últimos 30 dias, 64,5% se declararam contrários à proibição da venda de armas e munição. Das 2.047 pessoas ouvidas, 2,7% disseram terem sido vítimas de algum tipo de crime no período, o que significa quase cinco milhões de brasileiros.

Nos votos por região, verifica-se que o Nordeste, outrora com a imagem de uma das áreas mais violentas do país, é justamente onde se registra maior equilíbrio entre as duas posições. Afora os indecisos, 46,6% manifestaram-se pelo Não e 41,6 pelo Não. Já no Sul, onde aumentaram os índices de violência urbana, e há a tradição do uso de armas nas áreas agrícolas e de pastoreio, a diferença a favor do Não aumenta muito, de 65% para 18,6%. Nas outras regiões a diferença é menos folgada mas sempre acentuada.

Os homens se manifestam em maior proporção que as mulheres a favor da manutenção do comércio de armas: 57,1%, contra 45,95. A classe média - rendimentos entre 10 e 20 salários mínimos - acuada pela violência crescente no campo e na cidade - mantém o mais alto percentual a favor do Não: 70,8%. Curiosamente, essa tendência se inverte na faixa de renda mais alta - acima de 20 mínimos - quando a tendência para o Não baixa para 46,4%. Quando o tópico é escolaridade, o Sim vence entre os analfabetos e o e os que têm primeiro grau incompleto. A partir daí o Não vai disparando, à medida que aumenta o nível de instrução.

A pesquisa está registrada sob o número 1711 no Tribunal Superior Eleitoral, tem margem de erro de 2,2% e ouviu 2.047 pessoas - 1.096 mulheres e 951 homens - em 150 municípios dos 27 estados, além do Distrito Federal. A grande maioria dos entrevistados acompanhou a campanha dos grupos do Sim e do Não no no horário eleitoral gratuito.

Dos 92,2% que declararam ter assistido aos programas, não passou de 61% o percentual dos que consideraram a programação suficiente para esclarecer as posições dos dois grupos.